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Trump muda tática sobre Síria e envia tropas para reaver maior reduto do EI

Presidente americano ordena reforço de 400 homens e equipamentos de artilharia para retomada da cidade de Raqqa

Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

O governo de Donald Trump decidiu enviar 400 soldados para o norte da Síria para apoiar curdos, grupos rebeldes locais e tropas turcas no esforço para retomar Raqqa, considerada pelo Estado Islâmico sua capital. O contingente quase dobrará as forças americanas no país, que está há seis anos mergulhado em uma guerra civil. Barack Obama resistiu à pressão para enviar tropas de combate à região e preferiu agir por meio de aliados na Síria.

 As tropas começaram a chegar à região no fim de semana, em caravanas de caminhões militares. A princípio, soldados dos EUA não participarão de combates diretos com integrantes do EI. Sua função será fornecer armamentos e apoio logístico a aliados na frente de batalha.

Fugitivos da área de combates em Raqqa se entregam a combatentes das Forças Democráticas Sírias Foto: REUTERS/Rodi Said

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“Esperamos que o cerco à cidade ocorra em poucas semanas”, disse à agência Reuters Talal Silo, porta-voz da Forças Democráticas Sírias, grupo que reúne alguns dos principais aliados locais dos EUA, entre os quais rebeldes sírios e os curdos.

O Observatório Sírio para Direitos Humanos, organização com sede em Londres, disse nesta quinta-feira que bombardeios lançados na terça-feira pela coalizão deixaram 23 civis mortos em uma vila a leste de Raqqa, entre os quais 8 crianças. Militares não confirmaram a informação. Criada em 2014, a coalizão abrange 65 países, a maioria dos quais não contribui de maneira direta no confronto. Bombardeios aéreos são a principal forma de combate dos EUA na Síria atualmente.

Durante a campanha eleitoral, Trump criticou intervenções anteriores no Oriente Médio, em especial a Guerra do Iraque. Dizendo que os EUA não poderiam ser a “polícia do mundo”, ele sugeriu que adotaria uma política menos atuante fora das fronteiras do país. Ao mesmo tempo, ele prometeu “destruir” o EI, visto como um risco à segurança dos americanos pela capacidade de recrutar seguidores e inspirar ataques terroristas dentro dos EUA.

Há poucas semanas, o Pentágono apresentou a Trump as linhas preliminares de um plano para derrotar o grupo terrorista em menos de um ano. Não está claro se o deslocamento de 400 soldados é o primeiro passo para a ampliação progressiva da presença militar no país.

A guerra ao EI é complicada pelo conflito entre aliados dos EUA e pela falta de coordenação entre a coalização e o governo de Bashar Assad e a Rússia. Parte da ofensiva de Moscou tem por alvo grupos rebeldes que estão ao lado dos americanos.

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Apesar de Trump manifestar de maneira recorrente o desejo de cooperar com a Rússia no combate ao EI, o chefe do Comando Militar dos EUA na região, general Joseph Votel, tem uma avaliação negativa da ação das forças de Vladimir Putin.

“A principal intenção da Rússia é manter a Síria como um Estado-cliente no futuro e eles dão suporte ao regime de Assad para isso”, declarou Votel ontem em depoimento no Senado. “Também é muito preocupante o fato de as operações aéreas da Rússia terem atingido civis e grupos de oposição apoiados pelos EUA.” O general disse que a falta de coordenação traz o risco de erros de cálculo.

Outro problema de Washington é o conflito entre a Turquia e as forças curdas, dois aliados cruciais na luta contra o EI. Os turcos consideram os curdos separatistas terroristas e não aceitam o apoio militar que eles recebem dos EUA. 

O movimento na Síria pode indicar uma mudança mais ampla na postura do governo. Também ontem, o general Votel afirmou que será necessário o envio de mais tropas ao Afeganistão para auxiliar nos esforços de estabilização do país.

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