Trump nega áudio em que critica May e promete acordos

Após repercussão negativa, presidente volta atrás e acusa jornalistas de espalharem ‘notícias falsas’ durante sua visita ao Reino Unido

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Por Andrei Netto , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

A visita do presidente dos EUA, Donald Trump, ao Reino Unido transformou-se nesta sexta-feira em desastre diplomático. Depois de criticar a premiê Theresa May, na quinta-feira, o republicano negou tudo e acusou os jornalistas de propagarem “notícias falsas”. Após a repercussão negativa, ele prometeu fechar acordos comerciais após a saída dos britânicos da União Europeia.

Trump e a rainha Elizabeth inspecionam a guarda de honra no Castelo de Windsor Foto: EFE

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Recebido com pompa em Londres, na quinta-feira, Trump havia cravado horas antes uma faca nas costas de May, que enfrentou nesta semana uma crise política após a demissão de dois dos ministros mais estratégicos de seu governo.

Na entrevista ao Sun, Trump afirmou que um dos demissionários, o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, defensor do Brexit, “é um cara talentoso, que daria um excelente primeiro-ministro”. 

O elogio não foi em vão: Johnson é acusado de trabalhar pela queda de May para assumir seu posto. Não bastasse, Trump atacou a nova estratégia anunciada pela premiê, que prevê um desligamento “suave” da UE, com a assinatura de acordos de livre-comércio. Para o presidente americano, “o acordo que ela (May) tem em mente é um diferente daquele pelo qual as pessoas votaram”. “Eu o teria feito de uma forma muito diferente. Eu disse a Theresa May como fazê-lo, mas ela não me escutou”, disse Trump. 

As declarações foram agravadas pelo fato de que o presidente fechou as portas a um futuro acordo de livre-comércio entre o Reino Unido e os EUA. “Se eles concluírem um acordo como esse, trataremos com a UE, e não com o Reino Unido, o que vai matar o acordo (de livre-comércio com os EUA)”, disse Trump. 

Ignorando o protocolo, Trump atacou também o prefeito de Londres, o trabalhista Sadiq Kahn, a quem acusou de ser um “prefeito horrível”, que “faz um péssimo trabalho quanto ao terrorismo”. No momento das declarações, o presidente assistia a uma demonstração de operação conjunta entre forças especiais americanas e britânicas contra o terrorismo na Academia de Sandhurst, uma das mais tradicionais da Europa.

Horas depois, Trump concedeu entrevista ao lado de May, na qual afirmou que não disse o que estava no conteúdo da entrevista publicado pelo jornal The Sun. Depois de chamar a entrevista gravada de “fake news”, ele disse não ter criticado a primeira-ministra, com quem teria uma relação “muito sólida”, e garantiu que os EUA estarão abertos a um acordo de livre-comércio com o Reino Unido. 

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“Concordamos que, quando o Reino Unido tiver deixado a UE, estabeleceremos um acordo de livre-comércio muito ambicioso”, afirmou. A essa altura, a reviravolta já havia unido conservadores e trabalhistas em críticas ao presidente. Via Twitter, o ministro da Educação, Sam Gymiah, questionou o comportamento do americano. “Onde estão suas boas maneiras, senhor Trump?”, escreveu.

A performance do americano também preocupou Paris. O chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, acusou Trump de tentar impor uma relação de força com os europeus. “Trump toma iniciativas para desestabilizar a UE”, advertiu. “Mas a Europa não se deixará desestabilizar.”

Protestos. “#DumpTrump” (“Trump no lixo”) era o lema das milhares de pessoas que saíram às ruas contra a visita ao Reino Unidos de  Trump, considerado “misógino, homofóbico e xenófobo”. “Este é o carnaval da resistência”, “Minha mãe não gosta de você, e ela gosta de todo mundo”, eram frases escritas nos cartazes.

Balão de Trump com fralda flutua em frente ao Parlamento britânico, em Londres Foto: EFE/ Andy Rain

“Não a Trump, não à Ku Klux Klan, não aos EUA fascistas!”, gritava a multidão, estimada em 100 mil, ao avançar pela Oxford Street com destino a Trafalgar Square, coração de Londres. Também eram numerosos os balões laranjas – com o lema “Stop Trump” –, uma referência à cor de pele do americano, adepto do bronzeamento artificial.

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A viagem de Trump foi por muito tempo adiada justamente pelo temor da reação dos opositores britânicos, indignados com a ideia de seu país lhe estender um tapete vermelho.

Grant White, de 32 anos, usava uma faixa representando Trump como o pássaro do logotipo do Twitter, rede social transformada pelo americano em palanque, com uma suástica sob a asa. “Sou anti-Brexit, anti-Trump. Há uma onda de fascismo da qual temos de nos libertar”, disse. 

Passando diante do número 10 da Downing Street, residência da primeira-ministra britânica, os manifestantes vaiaram e gritaram: “Vergonha!”. May foi a primeira líder estrangeira a viajar a Washington para encontrar Trump, após sua posse, em janeiro de 2017.

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Pela manhã, um balão gigante representando Trump de fraldas flutuou perto do Parlamento, iniciativa que recebeu luz verde do prefeito de Londres, Sadiq Khan, alvo de ataques verbais do americano.