Trump retoma campanha eleitoral para tentar reverter queda de popularidade 

A menos de cinco meses da eleição, o republicano tem um déficit de entre 12 e 14 pontos porcentuais; historicamente, presidentes que em junho tinham aprovação abaixo de 45% não foram reeleitos

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Por Beatriz Bulla/ Correspondente e Washington
Atualização:

Apesar das críticas e dos pedidos de autoridades de saúde para evitar aglomerações em razão da pandemia de coronavírus, Donald Trump retomou ontem os megacomícios para conter a queda de popularidade registrada nos últimos dois meses. Diante de 20 mil pessoas em uma arena de Tulsa, no Estado de Oklahoma, ele relançou sua campanha presidencial.

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A menos de cinco meses da eleição, Trump tem um déficit de pouco mais de 12 pontos porcentuais em seu índice de popularidade, de acordo com o site Real Clear Politics, que calcula a média diária de pesquisas – 42,7% aprovam o desempenho do presidente, enquanto 54,8% desaprovam. 

No portal Five Thirty Eight, que presta o mesmo serviço, e leva em conta mais sondagens, o prejuízo é maior: 41,4% aprovam Trump, enquanto 55,2% desaprovam – uma diferença de quase 14 pontos porcentuais. Historicamente, presidentes que em junho tinham aprovação abaixo de 45% não foram reeleitos.

Simpatizante de Trump em comício do republicano na cidade de Tulsa, em Oklahoma Foto: Michael B. Thomas/Getty Images/AFP

Para tentar reverter a tendência de queda, a campanha de Trump decidiu retomar o contato direto com os eleitores com a realização de megacomícios com o de ontem em Tulsa, apesar da situação ainda crítica da pandemia, que avança em 22 dos 50 Estados americanos. O presidente já anunciou que em breve a campanha passará pelos Estado do Texas, Florida, Arizona e Carolina do Norte. 

Mas discursos como o de ontem em Tulsa, para 20 mil pessoas, não servem apenas para aumentar o entusiasmo de seus eleitores. Marcado para começar às 19 horas (horário local, 21 horas em Brasília) de uma noite de sábado, a ideia era aproveitar o horário nobre e a cobertura gratuita da mídia nacional, para a transmição do evento ao vivo.

Nos bastidores, o comício tem também outro objetivo: coletar dados de eleitores para que a campanha de Trump possa usar nas eleições de novembro. No Twitter, o presidente anunciou que quase 1 milhão de pessoas se inscreveram para participar do evento em Tulsa – a arena tem capacidade para 20 mil pessoas e o aceso era decidido por ordem de chegada.

No entanto, as inscrições são importantes porque ampliam o banco de dados da campanha com informações preciosas, como nome, registrado partidário, telefone celular, e-mail e endereço. Brad Parscale, chefe da campanha de Trump, descreveu o megacomício de ontem como “a maior coleta de dados” de todos os tempos. 

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Com as informações obtidas, os estrategistas do presidente sabem, por exemplo, que cerca de 15% a 20% das pessoas que compareceram aos comícios de Trump votaram em apenas uma das quatro eleições passadas, ou não votaram. Em dois dos mais recentes comícios – em New Jersey e em New Hampshire – mais de 25% das pessoas que se inscreveram para entrar eram democratas. Com dados valiosos nas mãos, é possível fazer uma campanha de marketing eleitoral mais segmentada e eficiente.

Trump segura a bíblia em frente à igreja St. John's, ato que foi criticado pelo padre responsável pelo local Foto: Doug Mills/The New York Times

Nos últimos anos, os republicanos gastaram US$ 350 milhões construindo um banco de dados centralizado de eleitores, o que colocou o partido à frente dos rivais na última eleição presidencial. Em fevereiro de 2019, os democratas lançaram um novo banco de dados, mas o ex-presidente do Comitê Nacional Democrata, Howard Dean, reconhece que ausência de eventos de campanha prejudica o esforço de coletar informações. 

Nos últimos três meses, Biden tem tentado recuperar o terreno perdido no setor de inteligência. De acordo com assessores do ex-vice-presidente americano, as campanhas dos principais adversários democratas nas primárias compartilharam suas listas de eleitores e doadores, o que triplicou o número de pessoas registradas no banco de dados do candidato – acrescentando 1,2 milhão de novos nomes apenas na primeira semana de junho. 

Até o momento, a melhor organização da campanha parece ser a grande vantagem do presidente contra Biden. No mais, todos os outros sinais mostram que a reeleição de Trump corre sério risco – e os estrategistas republicanos precisarão mais do que grandes comícios para mudar a imagem de Trump, envolvido em crises diferentes.

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A primeira dificuldade é explicar os 120 mil mortos e 2,3 milhões de infectados pela covid-19. Em quatro meses de pandemia, Trump minimizou a disseminação do vírus, rejeitou o uso de máscara de proteção e fez de tudo para que o país abandonasse o isolamento social, para evitar que os problemas sanitários criassem uma crise econômica. Não conseguiu. Além dos 40 milhões de desempregados, o PIB americano deve encolher 6%, segundo projeções do FMI. 

Outro golpe inesperado foi a morte de George Floyd, negro assassinado em maio por um policial branco em Minneapolis – o que desatou uma onda de protestos raciais nos EUA. Trump optou por uma resposta radical, defendendo a repressão aos manifestantes. 

A estratégia chegou ao ponto mais baixo no início de junho, quando a polícia dispersou com violência a multidão que protestava pacificamente diante da Casa Branca para que o presidente pudesse fazer uma sessão de fotos diante de uma igreja segurando uma Bíblia na mão.

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Esta semana, Trump deixou claro que quer comícios cheios, que não pretende discursar em locais vazios ou olhar para uma fileira de rostos cobertos por máscaras, o que atrapalha o argumento de que a vida tem de voltar ao normal – mesmo que sua equipe de epidemiologistas diga que a pandemia está longe do fim. “Meu Deus, onde isso vai parar?”, questionou na terça-feira Anthony Fauci, principal especialista em doenças infecciosas do governo. 

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