
21 de fevereiro de 2020 | 10h18
WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, substituiu na quinta-feira, 20, o chefe de inteligência. Relatos indicam que Trump ficou furioso com o antigo diretor após uma sessão com congressistas sobre a suposta intenção da Rússia de interferir nas eleições deste ano a favor do presidente.
Trump se revoltou contra o agora ex-diretor interino de inteligência nacional (DNI) Joseph Maguire ao ficar sabendo da sessão de 13 de fevereiro do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes - de maioria democrata -, informou a imprensa.
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Não está claro se Trump rejeitou algum ponto específico das explicações ao Comitê, onde, segundo relatos, Shelby Pierson, assistente de Maguire, disse aos congressistas que a Rússia estava interferindo mais uma vez nas eleições americanas para favorecer o presidente, que já foi alvo de acusações de interferência favorável de Moscou na eleição de 2016.
O presidente ficou irritado com a presença de Adam Schiff, o representante democrata que comandou a investigação que resultou nas acusações de abuso de poder e obstrução do trabalho do Congresso contra Trump no processo de julgamento político, informou o jornal The New York Times.
O presidente repreendeu Maguire em uma discussão no Salão Oval na semana passada pela "deslealdade" de sua equipe, de acordo com o Washington Post, frustrando efetivamente suas possibilidades de ser ratificado de forma permanente no cargo.
Havia uma irritação que foi o "catalisador" do afastamento de Maguire, afirmou o Post, que citou uma fonte não identificada.
Trump foi acusado em dezembro de tentar forçar a Ucrânia a investigar aquele que era apontado na época como seu principal rival nas eleições de 2020, o ex-vice-presidente Joe Biden, para obter benefícios políticos. Para conseguir o que desejava, o republicano teria bloqueado ajuda militar considerada vital para a ex-república soviética em sua guerra com a Rússia.
O congressista democrata Bennie Thompson disse que ao demitir Maguire por sua sessão informativa na Câmara "o presidente não apenas se recusa a se defender da interferência estrangeira, mas a está convidando" a ser concretizada.
A Casa Branca insistiu na quinta-feira que o novo chefe da inteligência americana, Richard Grenell, realizará seu trabalho de forma imparcial, diante da indignação dos democratas, que protestaram com a nomeação de um partidário do presidente Donald Trump para o cargo crucial.
Grenell, ex-embaixador dos Estados Unidos na Alemanha, que irritou o aliado europeu por suas críticas ao governo local, foi nomeado na quarta-feira diretor interino da Inteligência nacional, substituindo Maguire.
Sem experiência anterior nesta área, ele vai supervisionar 17 agências, entre elas a CIA, após uma série de confrontos entre Trump e profissionais do setor sobre a interferência russa na campanha eleitoral de 2016 e supostas intenções similares de Moscou para 2020.
Grenell "está comprometido com uma abordagem apolítica, imparcial, como chefe da Comunidade de Inteligência, da qual depende nossa segurança", disse em nota a secretária de imprensa da Casa Branca, Stephanie Grisham.
Comentarista na imprensa há muitos anos e ex-porta-voz dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Grenell será o primeiro funcionário abertamente gay em um gabinete do governo nos Estados Unidos.
Como salvo-conduto para esta nomeação, Trump o designou diretor interino, permitindo sua atuação por 210 dias sem a necessidade de aprovação do Senado. Essa é a segunda vez consecutiva que o milionário republicano recorre a esta estratégia para o cargo.
O senador democrata Ron Wyden acusou Trump em um comunicado de priorizar a "obediência" incondicional sobre a "segurança do povo americano".
Grenell saudou o surgimento de populismos de direita na Europa e elogiou o chanceler ultraconservador austríaco Sebastian Kurz, a quem descreveu como "uma estrela do rock".
O novo diretor também expressou dúvidas sobre a interferência russa na campanha eleitoral 2016, algo que segundo as conclusões da comunidade de inteligência aconteceu e incluiu a manipulação das redes sociais para favorecer Trump sobre sua rival Hillary Clinton./ AFP
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