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Tunísia fecha TV privada e prende dono por ''traição''

Proprietário é acusado de tentar desestabilizar o país; canal foi tirado do ar antes de transmitir entrevista com líder comunista

Atualização:

TÚNISO governo interino da Tunísia fechou, no fim de semana, o mais antigo e popular canal privado de televisão, contrariando suas promessas de respeitar a liberdade de expressão. A agência estatal de notícias disse o proprietário da Hannibal TV, Larbi Nasra, foi preso e as transmissões foram interrompidas por "alta traição". A emissora foi acusada de tentar "abortar a revolução dos jovens, espalhar a confusão, incitar ao conflito e divulgar informações falsas que poderão criar um vazio constitucional e desestabilizar o país, lançando-o em uma espiral de violência, com o propósito de restaurar a ditadura do ex-presidente", segundo o comunicado oficial. Nasra e seu filho haviam sido presos "para garantir a segurança da país e o sucesso da revolução". O fechamento da rede aconteceu enquanto o canal se preparava para transmitir uma entrevista com Hamma Hammami, um líder do Partido Comunista tunisiano, hoje proibido. Um dos críticos mais ousados de Ben Ali antes da sua fuga, Hammami, a partir de então, começou a criticar abertamente a influência do partido no governo provisório, inclusive em um documento transmitido na noite de sábado pela rede Hannibal. Ele também tem vínculos com os sindicatos tunisianos, que apoiam os protestos contra o novo governo. Lotfi Callemi, porta-voz da Hannibal TV, disse que o governo interrompeu o sinal da emissora sem aviso prévio ou qualquer explicação. "O proprietário apoiava a revolução e dava a todas as pessoas a possibilidade de se manifestarem", declarou. Sallemi definiu a medida como uma flagrante violação da liberdade de imprensa, e afirmou que poderia ter sido feita qualquer acusação contra o proprietário sem tirar de repente do ar um canal importante. Credibilidade estatal. Depois da divulgação da notícia, na noite do domingo, vários tunisianos afirmaram que a decisão afeta profundamente a credibilidade do governo provisório, que enfrenta um crescente número de protestos contra as pressões de antigos membros do partido governista anterior, entre eles o primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, que era o braço direito de Ben Ali e se recusa a renunciar. O destino da emissora representará um teste crucial para o compromisso do novo governo para com as liberdades civis. Uma semana depois do inicio dos protestos, chegaram no fim de semana a Túnis os primeiro comboios de tunisianos procedentes do sul empobrecido, que se uniram à multidão que ocupa as ruas da capital. Durante mais de oito horas, os manifestantes vaiaram e pediram a dissolução do governo. "Hoje, hoje, o governo deve sair", era o slogan preferido. A agência estatal de notícias disse que o proprietário da Hannibal TV era parente da segunda mulher do ex-presidente, Leila Trabelsi, uma figura detestada no país, cuja família enriqueceu depois do seu casamento. Mas a Hannibal TV, fundada há cerca de cinco anos, era mais conhecida pelos conflitos do que pela intimidade com o governo de Ben Ali, e chegou a perder direitos de transmissão de jogos de futebol para a rede estatal e o direito de transmitir um programa de entrevistas muito semelhante ao da televisão estatal. Desde a derrubada de Ben Ali, os programas políticos e o noticiário deixaram de festejar o ex-presidente, mas exigiam que o antigo partido governista fosse excluído do governo provisório. Há protestos diários no país desde que o governo provisório foi anunciado, na semana passada. Segundo os defensores do novo governo, décadas de governo unipartidário deixaram poucas pessoas qualificadas para conduzir o Estado até as eleições livres, que se realizarão daqui a seis meses, sem data marcada. O chefe das Forças Armadas da Tunísia, Rachid Ammar, disse ontem que o "vácuo de poder" no país pode levar a uma ditadura. Segundo ele, os militares irão agir para salvaguardar a revolução que depôs o presidente depois de 23 anos no poder. "O Exército nacional é o garantidor da revolução. / NYT e APPARA LEMBRARApós um mês de violentas manifestações contra corrupção, desemprego e falta de liberdade política, o presidente tunisiano, Zine el-Abidine Ben Ali, que estava havia 23 anos no poder, fugiu do país. Foi a primeira vez que um movimento popular destituiu o líder de um país árabe. Desde o início, a polícia respondeu com violência, e mais de 70 civis morreram. Jovens tornaram-se os protagonistas dos distúrbios, utilizando redes sociais, como Facebook e Twitter, para organizar protestos e publicar vídeos dos confrontos com a polícia. Alguns manifestantes citaram documentos dos EUA divulgados pelo site WikiLeaks, que citavam casos de corrupção no governo de Ben Ali.

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