Trabalhadores do setor preferem que abertura traga mais europeus e canadenses à ilha e ainda são céticos em relação a americanos
Por Felipe Corazza
Atualização:
HAVANA - Nas ruas de Havana, Antonio dirige um Chevrolet 1951 oferecendo serviços de táxi. Apesar de também atender a cubanos, procura ficar sempre próximo a hotéis ou à Praça Central, na parte turística da cidade, já que as corridas para estrangeiros rendem mais – o preço é decidido caso a caso e muitos se esquecem de combinar antes, tornando tudo mais lucrativo.
No painel do veículo, um adesivo com pouco sentido à primeira vista, mas com muito significado para os cubanos que trabalham na indústria do turismo, formal ou informalmente: um logotipo da Apple com a bandeira do Canadá. O adesivo pode ser comprado por 0,3 CUC – a moeda conversível cubana, algo próximo de 30 centavos de euro – em lojas para turistas.
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Desde o anúncio da retomada das relações entre Havana e Washington, o taxista diz ter visto um pequeno aumento no número de turistas, mas avalia que a grande diferença deve aparecer nos últimos meses do ano. “Agora, está muito calor. Quando chegar o inverno, saberemos melhor.”
Apesar do cenário favorável, Antonio não se anima com os americanos. Prefere os canadenses. “São mais, mais... Sabe, são melhores que os americanos”, afirmou.
A opinião é compartilhada por Messi, guia turístico informal que oferece seus serviços diante da Catedral de Havana, onde o papa Francisco celebrou encontro com famílias no domingo passado. O nome, obviamente, é falso para evitar problemas.
“Veja, tenho três filhos. Sou revolucionário e patriota, mas algumas coisas podem ser mal interpretadas e, então...”, conclui, fazendo o gesto de uma decapitação passando o indicador pelo pescoço. Apesar do “nome de guerra”, o homem de 43 anos usa uma camisa da seleção portuguesa de futebol, presente de um turista.
Novos tempos em Cuba
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Cubanos acessam sinal de internet em um dos 35 pontos de Havana que têm Wi-Fi; apesar de ter sido reduzido, preço é muito alto
Cubanos acessam sinal de internet em um dos 35 pontos de Havana que têm Wi-Fi; apesar de ter sido reduzido, preço é muito alto Foto: REUTERS/Enrique de la Osa
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Carros dos anos 50 que funcionam como táxis em Havana - As imagens de Havana foram feitas pela correspondente do Estadão Cláudia Trevisan e por agênci... Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃOMais
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Juan, de costas, e vizinhos do bairro Romerillo; todos dizem que os salários que recebem são insuficientes para viver e esperam mudanças com a retomad... Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃOMais
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Muro com slogans em frente à Embaixada dos EUA, na Tribuna Anti-Imperialista Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Félix Bueno, 64, em sua casa no bairro Romerillo; Na parede, uma imagem modificada de Che Guevara, feita por um artista mexicano. Nas mãos, a foto de ... Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃOMais
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José Luís, motorista da reportagem do Estado, com seu Moscovich 1980, que herdou do pai, e o gancho improvisado que usa para manter o vidro fechado Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Juan em sua casa em Romerillo com uma manga que custa 5 pesos (0,25 dólares); com aposentadoria e trabalho de vigia, ele ganha 360 pesos por mês Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Prédio da Embaixada dos EUA em Havana Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Cubanos consertam carro americano dos anos 50 no bairro Romerillo, em Havana Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Jornal que está no Museu da Revolução; com data de 4 de janeiro de 1961, anuncia a decisão dos EUA de romper relações com Cuba Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Carros dos anos 50 que funciona como táxi em Havana; várias pessoas tomam o mesmo veículo, que faz um trajeto definido ao custo de US$ 0,40 Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Grupo de turistas passeia em antigo carro conversível em Havana. Para americanos, visitar Cuba é uma verdadeira "viagem no tempo" Foto: Alejandro Ernesto_EFE
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É cada vez mais comum a presença de turistas americanos em Havana, atraídos por construções antigas e carros clássicos que ainda circulam pelas ruas Foto: Alejandro Ernesto / EFE
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Altar onde Papa Francisco rezará a primeira missa em território cubano Foto: Alejandro Ernesto / EFE
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A retomada das relações entre EUA e Cuba está permitindo a entrada de navios de cruzeiros e elegantes iates de luxo no território cubano Foto: Desmond Boylan / AP
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Preparativos para receber o Papa em Havana começam a mudar a fachada da capital. Pontífice chega à cidade no dia 19 de setembro Foto: Alejandro Ernesto / EFE
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Turistas caminham em Havana e desfrutam de uma autêntica "viagem no tempo" Foto: Alejandro Ernesto / AP
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Segurança caminha ao lado do iate americano Still Waters, atracado na marina Hemingway, em Havana Foto: Desmond Boylan / AP
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Grupo de turistas visita uma feira de livros em Havana. Muitos americanos querem visitar a ilha para saber o que mudou em 50 anos Foto: Alejandro Ernesto / AP
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Trabalhadores cubanos constroem altar para a visita do Papa Francisco Foto: Alejandro Ernesto / EFE
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Cachorro com fantasia em desfile de Carnaval em Santiago. Festividade deve atrair mais turistas a cada anoapós a retomada das relações com os EUA Foto: Alejandro Ernesto / EFE
Para Messi, a queda do embargo econômico imposto a Cuba pelos EUA será bem-vinda, mas prefere que o país passe a fazer negócios com outros países e receba turistas de outras nacionalidades. “Os canadenses são muito bons. Europeus, um pouco. Os alemães e os ingleses, não tanto. Mas os americanos são os piores. Os americanos chegam como ovelhas e se transformam em tigres siberianos quando conseguem dominar os outros.”
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Antes de entrar na catedral para mostrá-la aos quatro turistas holandeses que o contrataram para um passeio, o guia informal explica um pouco mais seus motivos. “Não temos telefones caros, internet, nem muitas coisas. Mas somos ricos. Podemos andar nas ruas sem violência e não há quem fique sem comer. Temos casas e uma vida sem ansiedade. Os americanos não entendem que isso também é uma forma de ser rico.”