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Turistas portugueses cancelam viagem ao Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

O assassinato dos seis empresários portugueses em Fortaleza começou a ter impacto no número de turistas portugueses que escolhem o Brasil como destino de férias. "Durante o fim de semana, em nossa linha 24 horas, tivemos alguns telefonemas de pessoas que pretendiam desistir de suas viagens. Hoje foram seis os cancelamentos", conta Luís Tonicha, do Clube 1840 Abreu, agência de turismo que comercializa vôos fretados para o Nordeste. Segundo Tonicha, durante o fim de semana os passageiros foram convencidos a continuar a viagem. "Explicamos que os crimes eram uma situação já identificada, premeditada, apelamos para o bom senso e pedimos que pensassem bem". Nesta semana, a agência tem lotados dois vôos fretados, também para o Nordeste, num total de 600 passageiros. Para Fernando Castro, da empresa de charters Club Vip, só será possível sentir a diminuição de turistas mais à frente: "Ainda é muito cedo para fazer uma avaliação, já que as férias escolares estão acabando". O embaixador do Brasil em Portugal, Synésio Sampaio Gois acredita que há uma grande possibilidade de o número de turistas portugueses visitando o Brasil cair. "Aqui não existe esse tipo de crime", disse. As estatísticas mostram que Portugal é o país com o mais baixo índice de criminalidade da Europa, o que explica o choque da população diante da chacina. Em 2000, dados do Ministério da Justiça indicam que Portugal teve apenas 42.682 inquéritos criminais - 55% menos que em 1991. Do total, apenas 2.654 estão classificados como crimes contra a pessoa - o que inclui agressões e assassinatos. Cerca de 70% deles ocorreram nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Segundo o sociólogo Francisco Moita Flores, especialista em criminologia, o caso de Fortaleza é único. "Não conheço na história da criminalidade mundial um caso como este. A primeira regra no matar para roubar é que o criminoso em geral não tem uma relação próxima com a vítima. Neste caso, o que potencializa o crime é a relação de confiança absoluta no homicida", afirmou. Flores condena os comentários de que foi a influência brasileira que tornou Luiz Miguel Militão Guerreiro um criminoso. "Seis meses de Brasil não fizeram isso com ele", disse. A reação dos portugueses contra o crime refletiu-se na família de Luiz Miguel Militão Guerreiro, mentor dos assassinatos. Segundo a imprensa local, seus pais tiveram de sair de casa por causa das ameaças que estão sofrendo. A cobertura da imprensa portuguesa do caso iniciou um debate que poderá mudar o sistema judicial do País. Isso porque em Portugal vigora o chamado segredo de Justiça, que proíbe qualquer participante do processo de dar declarações até que o caso seja apresentado ao juiz. "A democracia precisa de transparência. Atualmente, toda a comunicação social fala com fontes anônimas, os próprios interessados não podem se manifestar", conta Germano Marques da Silva, vice-presidente da Ordem dos Advogados de Portugal. Ele explica que, hoje, se o suspeito de um crime falar com a imprensa poderá ir para a prisão por "perturbar a investigação".

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