12 de agosto de 2010 | 06h27
TEERÃ - A TV estatal do Irã levou ao ar na quarta-feira, 11, o que diz ser uma confissão de Sakineh Mohammadi Ashtiani, a mulher ameaçada por uma condenação à morte por apedrejamento, admitindo seus crimes. Durante a transmissão, Sakineh diz ter conspirado para matar o marido e acusa o advogado Mohammed Mostafaie, que fugiu do país, de interferir indevidamente em seu caso.
Um grupo de ativistas de direitos humanos, o Comitê Internacional contra o Apedrejamento, classificou a entrevista como "propaganda tóxica", já que a iraniana anteriormente havia negado as acusações.
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ESPECIAL - Caso Sakineh Ashtiani
Segundo informações da agência Reuters, o vídeo transmitido mostrava a suposta Sakineh com um efeito de borrão no rosto e sua voz havia sido encoberta pela tradução do dialeto local para o Farsi, impedindo a verificação da identidade da mulher e da veracidade do vídeo.
A condenação de Sakineh provocou comoção na comunidade internacional, com pedidos para que o Irã reveja a punição, originalmente pela acusação de adultério.
No fim do mês passado, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ofereceu asilo à iraniana para que ela não seja executada. O governo iraniano respondeu dizendo que Lula é "emotivo" e está "desinformado" sobre o caso.
Condenação não mencionada
Durante a transmissão da confissão de Sakineh pela TV estatal, a condenação à morte por apedrejamento não foi mencionada. O foco também foi alterado da acusação de adultério para a acusação de participação em um plano para assassinar o marido.
Na confissão televisionada, ela admitiu ter participado do plano de assassinato, apesar de ter afirmado anteriormente à mídia ocidental que havia sido absolvida dessa acusação.
Sakineh disse ter sido convencida a participar do plano pelo assassino, um primo do marido. "Ele trouxe equipamentos elétricos, fios e luvas. Ele então eletrocutou meu marido", afirmou ela. "Ele havia me pedido antes para mandar meus filhos para a casa da avó", disse.
Advogado
Sakineh também criticou seu advogado, Mohammed Mostafaie, e o acusou de interferir em seu caso. A transmissão da TV afirma que o advogado usou Sakineh para conseguir asilo no exterior.
"Por que ele levou meu caso à televisão? Por que ele me desgraçou? Nem todos os meus parentes sabiam que eu estava presa. Por que ele fez isso comigo?", questiona a mulher durante a transmissão, afirmando que não se encontrou com Mostafaie nenhuma vez.
O advogado fugiu do Irã após as autoridades terem supostamente tentado prendê-lo. Ele foi primeiro à Turquia e está agora na Noruega.
Outro dos advogados de Sakineh diz que ela foi torturada por dois dias na prisão para forçá-la a confessar. Ativistas para a defesa dos direitos humanos agora temem que ela possa estar sob perigo de uma execução iminente.
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