Ucrânia acusa separatistas de destruir provas sobre queda de avião malaio

Insurgentes pró-Rússia e Exército de Kiev fazem acordo para que agentes da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e investigadores internacionais tenham acesso à região de Grabovo, onde aeronave caiu; corpos continuavam ao relento

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Por Andrei Netto
Atualização:

DONETSK, UCRÂNIA - O governo da Ucrânia acusou neste sábado, 19, os separatistas pró-Rússia de destruir provas que possam explicar a queda do avião da Malaysia Airlines ocorrida no leste ucraniano na quinta-feira, que matou todas as 298 pessoas a bordo. De acordo com Kiev, os insurgentes “liderados por Moscou” tentam destruir as evidências de um “crime internacional”. 

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Cerca de 44 horas após a queda do voo MH17, agentes da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e investigadores internacionais foram autorizados a iniciar sua investigação no local da queda. O Exército e os insurgentes fizeram um acordo para a criação de um corredor de segurança que permitira o início da investigação. O entendimento vinha sendo negociado por diplomatas da Ucrânia e da Rússia, juntamente com negociadores da OSCE, mas enfrentava a resistência dos grupos separatistas que sitiam a região de Grabovo, onde caiu o avião. 

Na tarde deste sábado, milicianos e voluntários reuniam os corpos das vítimas em campos agrícolas próximos à fronteira russa. Por volta de 16h30, cerca de 140 corpos haviam sido encontrados. “Estamos pedindo ajuda dos moradores da região”, disse um dos comandantes separatistas, que não quis se identificar.

A demora na intervenção de autoridades ucranianas e internacionais faz com que quase dois dias após a queda do voo da Malaysia Airlines o cenário em torno dos destroços seja cada vez mais mórbido. Os corpos, grande parte deles, nus, por terem tido suas roupas arrancadas durante a queda, seguiam expostos a céu aberto, alguns presos em ferragens, decompondo-se sob a chuva e o sol do verão ucraniano.

Até o fim da tarde deste sábado, nenhuma câmara fria havia sido usada na remoção dos cadáveres, que, cobertos com plásticos negros, eram agrupados na margem de uma estrada. 

Nenhum trabalho de identificação das vítimas havia começado. No entorno, roupas, objetos pessoais e malas que poderiam ajudar nas identificações foram revirados por milicianos, curiosos e ladrões. Não havia nenhum tipo de isolamento no local da queda.

“Estamos permitindo a chegada dos investigadores, mas também estamos fazendo as nossas investigações”, afirmou outro dos líderes separatistas. “Quero expressar as minhas condolências. Isso é uma tragédia. É tudo o que posso dizer.”

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De acordo com investigações preliminares dos governos de Estados Unidos e Ucrânia, realizadas a partir de informações dos serviços secretos e das Forças Armadas dos países, o Boeing teria sido abatido por um míssil proveniente de áreas ocupadas por milícias armadas e contrárias a Kiev, o que os separatistas negam.

Ontem, eram os rebeldes quem autorizavam ou negavam o acesso à região, em postos de controle montados ao longo da estrada que liga Donetsk a Luhansk.

A queda do avião deixou 192 holandeses mortos. O ministro das Relações Exteriores da Holanda, Frans Timmermans, enviou à Ucrânia uma equipe do Escritório Holandês de Segurança Aérea para participar da investigação, mas a equipe vinha sendo bloqueada. 

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