KIEV - Separatistas pró-Rússia e autoridades ucranianas chegaram a um acordo nesta sexta-feira, 6, sobre a criação de um corredor humanitário para retirar civis do epicentro dos combates no leste da Ucrânia. Ao mesmo tempo, líderes da Alemanha e da França se preparam para apresentar seu plano de paz a Moscou.
O acordo determinou a retirada de civis de Debaltseve, eixo ferroviário estratégico, que liga duas regiões do leste ucraniano controladas pelos separatistas, que se tornou o principal alvo da ofensiva rebelde. A cidade, no entanto, continua sob controle de Kiev, mas a população local está presa em meio ao fogo cruzado e sem eletricidade, aquecimento ou água há quase duas semanas.
Comboios de ônibus foram enviados dos dois lados de Debaltseve. Um correspondente da Reuters perto de Horlivka, a oeste de Debaltseve, informou que cerca de 30 ônibus vazios seguiam em direção ao local sob escolta de monitores do órgão de segurança OSCE e de forças rebeldes.
Outra testemunha da Reuters disse que um comboio similar, controlado pelas forças ucranianas, seguia em direção à Debaltseve por Artemivsk, a leste da cidade.
Separatistas afirmaram que a trégua temporária começou às 9h de Moscou (4h no horário de Brasília) e testemunhas disseram que não houve troca de tiros entre os dois lados enquanto as escoltas se moviam em direção a Debaltseve.
O conselheiro do ministro do Interior ucraniano Zorian Shkirya disse no Facebook que "o corredor humanitário foi confirmado".
O porta-voz rebelde em Donetsk Eduard Basurin disse que cerca de mil civis devem ser retirados nesta sexta e terão a escolha de ir para territórios controlados pelos rebeldes ou por Kiev.
O acordo ocorre ao mesmo tempo que os líderes europeus pressionam por um novo plano de paz para acabar com a crise na Ucrânia. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, vão se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, no Kremlin nesta sexta, um dia depois de terem discutido as propostas com o presidente ucraniano, Petro Poroshenko.
A ação diplomática ocorre em meio a violentos combates no leste ucraniano, o que levou Washington a analisar o fornecimento de amamento letal para as Forças Armadas ucranianas, provocando temores na Europa sobre uma maior polarização entre Ocidente e Rússia.
Mais de 5 mil pessoas morreram no conflito que causou a maior crise entre a Rússia e o Ocidente desde a Guerra Fria.
As hostilidades no leste da Ucrânia entre separatistas pró-Rússia e forças ucranianas se intensificaram nas últimas duas semanas. A Rússia nega que apoie os insurgentes com armas e soldados.
O secretário de Estado americano, John Kerry, esteve em Kiev na quinta-feira e disse que o presidente Barack Obama "analisa todas as opções, dentre elas, obviamente, está a possibilidade de fornecer sistemas defensivos para a Ucrânia".
Diplomatas ocidentais disseram que Putin deu aos líderes da França e Alemanha um plano de paz de nove páginas e Hollande e Merkel levam consigo uma versão do documento com algumas alterações.
A versão europeia deixa de lado alguns elementos do plano russo para ficar de acordo com o que a Ucrânia e os europeus querem, mas oferece alguma autonomia para o leste ucraniano, com proteções especiais para a língua, cultura e impostos locais, disseram os diplomatas.
O ministro de Relações Exteriores ucraniano, Pavlo Klimkin, disse no Twiter que os líderes discutiram "medidas para que o acordo de Minsk possa começar a funcionar", uma referência ao acordo de setembro que previa um cessar-fogo, a retirada de armamentos pesados pelos dois lados, monitoramento internacional da fronteira entre Ucrânia e Rússia e um certo nível de autonomia para o leste. O acordo fracassou e cada lado acusa o outro por sua violação. /AP e REUTERS