Sites governamentais e bancários na Ucrânia sofreram um novo ataque cibernético nesta quarta-feira, mas as agências de proteção cibernética estão revidando, disse o governo ucraniano.
“Atualmente, o Serviço Estatal de Comunicações Especiais e Proteção de Informações da Ucrânia e outros assuntos do sistema nacional de segurança cibernética estão trabalhando para combater os ataques, coletando e analisando informações”, disse a agência em comunicado.
O governo ucraniano não disse quem acredita estar por trás dos ataques de quarta-feira, mas na semana passada, os Estados Unidos culparam oficialmente o governo russo por ataques cibernéticos que interromperam os serviços bancários online de pelo menos dois grandes bancos ucranianos.
Vários sites do governo ucraniano foram alvo de ataques cibernéticos nesta quarta-feira. Os sites da Verkhovna Rada - o parlamento ucraniano -, bem como do Gabinete de Ministros e do Ministério das Relações Exteriores, não estavam funcionando, informaram os meios de comunicação ucranianos Klymenko Time e RBC.
A NetBlocks acrescentou que os sites do Ministério da Defesa, Ministério de Assuntos Internos e Serviço de Segurança da Ucrânia também estavam inativos, provavelmente devido a um ataque.
Isso ocorre apenas uma semana depois que o Ministério da Defesa da Ucrânia e dois bancos locais foram alvos de um ataque cibernético, mostrando um padrão que especialistas dizem ser provavelmente promovido por hackers ligados ao governo da Rússia.
O ataque é chamado de negação de serviço distribuída, ou DDoS, que envolve interromper o tráfego de um site sobrecarregando-o com bots, de acordo com o site da empresa de segurança Cloudflare. “De um nível alto, um ataque DDoS é como um engarrafamento inesperado que obstrui a rodovia, impedindo que o tráfego regular chegue ao seu destino”, diz o site.
O ataque cibernético de 15 de fevereiro também foi um ataque DDoS, visando os sites do Ministério da Defesa e dos bancos Oshadbank e Privatbank. Uma autoridade de segurança cibernética dos EUA disse na semana passada que seu departamento tem "informações técnicas" que ligam a Diretoria Principal de Inteligência da Rússia aos ataques.
Em janeiro, vários sites do governo ucraniano foram alvo de ataques cibernéticos. Uma mensagem no site do Ministério das Relações Exteriores dizia: "Ucranianos! ... Todas as informações sobre vocês se tornaram públicas. Tenham medo e esperem pior. É o seu passado, presente e futuro", levando muitos a acreditar que a Rússia estava por trás deles.
Um grande banco, o Oschadbank, cujos serviços online foram interrompidos na semana passada, foi atingido novamente na quarta-feira. O mesmo aconteceu com o site da agência que policia o cibercrime.
Analistas do setor privado disseram que a Ucrânia em geral ainda estava conectada à Internet, mas que bancos e sites de agências governamentais estavam sendo inundados com tráfego.
“O país ainda está conectado à Internet e os dados estão entrando e saindo”, disse Doug Madory, diretor de análise de Internet da Kentik, que rastreia os fluxos de dados em todo o mundo.
A Rússia intensificou sua agressão cibernética contra a Ucrânia. Os ataques cibernéticos que interrompem os serviços são amplamente esperados como meio de tentar semear pânico e confusão e diminuir a confiança no governo.
Eles também podem ser usados para cortar as comunicações e dificultar as operações militares. Até agora isso não aconteceu, mas as autoridades ucranianas e seus colegas nos Estados Unidos e na Europa estão monitorando de perto os eventos.
A União Europeia (UE) ativará sua Equipe de Resposta Rápida Cibernética para ajudar a Ucrânia a se defender contra ataques cibernéticos, informou o site americano Politico. A equipe inclui especialistas dos países da UE da Croácia, Estônia, Lituânia, Holanda, Polônia e Romênia. Será a primeira vez que a equipe será destacada.
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia "apresenta o risco cibernético mais agudo que as corporações americanas e ocidentais já enfrentaram", segundo a Harvard Business Review, porque uma invasão russa levaria a sanções de outros países, que a Rússia vê como "guerra econômica. A resposta seria "assimetricamente" planejada, com ataques cibernéticos.
Sanções
Nesta quarta-feira, 23, os líderes da Polônia e da Lituânia se juntaram à Ucrânia pedindo a "introdução rápida de um pacote robusto de sanções" contra Moscou e expressando apoio à candidatura da Ucrânia para se tornar membro da União Europeia.
Em um comunicado conjunto após uma reunião em Kiev, o presidente Volodmir Zelenski, da Ucrânia, Andrzej Duda, da Polônia e Gitanas Nauseda, da Lituânia, expressaram a “condenação mais forte” da decisão da Rússia de reconhecer duas regiões separatistas pró-Moscou no Leste da Ucrânia.
“Pedimos à comunidade internacional que tome medidas resolutas e de longo alcance em resposta a este mais um ato de agressão cometido pela Rússia contra a soberania e a integridade territorial da Ucrânia”, disseram os três presidentes.
Isso inclui medidas adicionais contra o gasoduto Nord Stream 2, avaliado em US$ 11 bilhões, que levará gás da Rússia à Alemanha, disse o comunicado. Berlim anunciou na terça-feira que estava congelando o processo de certificação do projeto, em resposta ao reconhecimento de Moscou das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk.
Em sua declaração, Duda, Nauseda e Zelenski também disseram que a Ucrânia “merece o status de candidato a membro da União Europeia” e que a Polônia e a Lituânia “apoiariam a Ucrânia para alcançar esse objetivo”.
Após a reunião dos presidentes, Duda disse em entrevista coletiva conjunta que as ações do presidente russo, Vladimir Putin, eram uma ameaça “não apenas para a Ucrânia, mas para toda a nossa região, em particular para o flanco leste da Otan e toda a União Europeia”. “Devemos dar um fim claro à política neoimperial da Rússia”, acrescentou Duda.
Rússia ameaça resposta dura às sanções ocidentais
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia prometeu uma "resposta dura" na quarta-feira ao pacote de sanções de Washington que atingiu a dívida soberana russa e dois bancos que financiam infraestrutura e Defesa. O pacote também visava as elites russas e suas famílias.
As medidas de resposta da Rússia não seriam necessariamente simétricas, mas seriam “bem fundamentadas” e dolorosas, disse o ministério em comunicado. Ele disse que a Rússia provou que pode suportar o impacto de todos os pacotes anteriores de sanções ocidentais.
O ministério disse que a política dos EUA de tentar mudar o curso da Rússia por meio de repetidas sanções equivale a “chantagem, intimidação e ameaças”, acrescentando que isso não funcionaria com uma potência global como a Rússia.
A confiança dos Estados Unidos nas sanções mostrou que sua política externa está “presa nos estereótipos de um mundo unipolar com uma falsa crença de que os EUA ainda têm o direito e a capacidade de impor suas próprias regras da ordem mundial”, disse o comunicado.
Invocando a retórica da Guerra Fria, disse que os Estados Unidos estão sendo imitados por “países-satélites e clientes, que perderam completamente sua independência”.
Depois que o secretário de Estado Antony Blinken cancelou uma reunião esta semana com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, o ministério disse que a Rússia ainda está “aberta à diplomacia com base nos princípios de respeito mútuo, igualdade e consideração pelos interesses de cada um”.