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UE ignora Cameron e escolhe Juncker para a Comissão Europeia

Premiê britânico diz que escolha vai dificultar as reformas do bloco europeu e ameaça com a saída de seu país

Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Chefes de Estado e de governo aprovaram ontem, em Bruxelas, na Bélgica, o nome do ex-primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, como novo presidente da Comissão Europeia. Conservador moderado e defensor da "federalização" da Europa - o maior grau de integração -, o luxemburguês dividiu a reunião de líderes políticos, já que o premiê britânico, David Cameron, lutou até o último minuto contra sua designação.A decisão foi tomada em uma reunião marcada pelo crescente isolamento de Cameron no interior da União Europeia. O resultado da votação não foi divulgado, mas dentre os 28 governantes europeus nenhum era tão enfático contra Juncker quanto o britânico. O anúncio da escolha foi feito pelo atual presidente do Conselho Europeu - espécie de presidente da Europa, Herman Van Rompuy. "A decisão foi tomada. O conselho propõe o nome de Jean-Claude Juncker como próximo presidente da Comissão Europeia", anunciou o belga, pelo Twitter oficial, fazendo uma ponderação: "Sua nomeação deve daqui para a frente ser objetivo de um voto do Parlamento europeu".Na prática, a escolha de Juncker, de 59 anos, está assegurada, já que foi o Parlamento, por consenso, que indicou o nome do luxemburguês. O ex-premiê é líder do Partido Popular Europeu, de centro-direita, majoritário no legislativo europeu. Logo, a aprovação de seu nome é questão de burocracia. Juncker não deve se pronunciar até assumir a Comissão Europeia, substituindo o diplomata português José Manuel Durão Barroso, que presidiu o órgão nos últimos dez anos. A definição do nome de Juncker provocou novas críticas, e mais desgaste, ao premiê britânico. Cameron deixou a reunião de líderes condenando a escolha. "Trata-se de um dia sombrio para a Europa. A decisão pode enfraquecer os governos", disse. Cameron não fez questão de mascarar sua insatisfação, nem de ameaçar abandonar o bloco econômico. "Creio que os interesses nacionais britânicos são reformar a União Europeia, organizar um referendo sobre essa reforma e recomendar nossa manutenção no interior de uma união reformada", disse. "Isso teria se tornado mais difícil de obter? Sim."As queixas de Cameron não encontraram respaldo entre os demais líderes europeus. A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu a adoção de gestos em favor do governo britânico, mas o presidente da França, François Hollande, reiterou a legitimidade da decisão. "Não se trata de uma pessoa, nem de um candidato. A lógica começou com as eleições para o Parlamento", alegou.A posição do premiê recebeu críticas em Londres do líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband, para quem a derrota política foi uma "humilhação total". "Isso reforça a necessidade de uma estratégia europeia que tenha como base alianças mais largas, dentro do interesse nacional", afirmou o trabalhista.Definido o nome de Juncker, os líderes europeus e o novo presidente da CE começam agora a definir quem substituirá Van Rompuy na presidência do Conselho e que será o novo Alto Representante para Relações Exteriores, cargo hoje ocupado pela britânica Catherine Ashton.Além da escolha de Juncker, também foi definida na reunião de cúpula em Bruxelas, a flexibilização das normas para o reequilíbrio fiscal dos países do bloco. Beneficiado pela medida, o presidente da França, François Hollande, negou que se trate de uma exceção aberta à França e à Itália. Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano e outro interessado na medida, prometeu continuar o processo de reformas internas, mesmo tendo mais tempo para organizar as contas públicas. "O problema da Itália não é a Europa, mas a Itália", afirmou. "Nós precisamos mudar a cara de nosso país."

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