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UE poderia suspender em breve embargo de venda de armas à China

Por Agencia Estado
Atualização:

A União Européia (UE) pode suspender ainda no primeiro semestre de 2004 uma proibição às vendas de armas para a China, abrindo caminho para lucrativos contratos com Pequim, disseram chanceleres europeus nesta segunda-feira. Os ministros europeus de Relações Exteriores começaram a discutir hoje o assunto. Alguns participantes mostraram-se confiantes de que o embargo será suspenso. De acordo com o chanceler Dominique de Villepin, da França, uma decisão sobre o assunto pode ser anunciada durante a próxima reunião de líderes da UE, prevista para março. "Nossa sensação é que o embargo é inconsistente com as melhoras registradas nas relações entre a Europa e a China", comentou. "Mesmo assim, ainda não decidimos suspender o embargo. Mais discussões são necessárias, especialmente no que diz respeito aos direitos humanos", esclareceu. A questão deverá ser debatida durante uma visita que o presidente da China, Hu Jintao, iniciou hoje à França. Hu deverá reunir-se com seu colega francês Jacques Chirac. Joschka Fischer, ministro alemão das Relações Exteriores, disse a jornalistas que seu governo "também vê a necessidade de discussões com a China sobre direitos humanos e a situação de Taiwan". O embargo à venda de armas européias à China foi imposto em resposta à violenta repressão de Pequim a ativistas pró-democracia na Praça da Paz Celestial, em 1989. Entretanto, nos anos seguintes, a China emergiu como uma potência econômica com índices médios de crescimento superiores a 8% ao ano. E os resultados previstos para 2004 são ainda melhores. Além de sua impressionante expansão econômica, a China proporcionou a partir do início dos anos 90 aumentos anuais de dois dígitos no orçamento público do Exército de Libertação do Povo, formado por cerca de 2,5 milhões de soldados. Os gastos militares declarados aumentaram 17,6% para US$ 20 bilhões em 2002, mas analistas estrangeiros especulam que os gastos reais seriam quatro vezes superiores em comparação com os números oficiais. França e Alemanha são os principais patrocinadores da proposta de suspensão do embargo de armas. Entretanto, Paris e Berlim precisarão superar a oposição da Holanda, de outros países escandinavos, do Parlamento Europeu e de grupos de defesa dos direitos humanos. "Exportar armas para a China é uma medida irresponsável, pois o governo chinês viola os princípios mais básicos dos direitos humanos de seu povo e ameaça desencadear uma guerra contra Taiwan", argumentou Ulrich Delius, especialista em temas asiáticos da Sociedade dos Povos Ameaçados, um grupo alemão de defesa dos direitos humanos. Graham Watson, um legislador britânico no Parlamento Europeu, qualificou a idéia como "ultrajante". Apesar da oposição, antes da reunião de hoje uma porta-voz européia alertou para a "mudança de humor" nas capitais européias com relação à China. De Villepin, por exemplo, qualificou a China como "um parceiro privilegiado e responsável. Queremos contribuir para que haja estabilidade aqui e na Ásia". Os proponentes do fim do embargo argumentam que o Código de Conduta para Vendas de Armas da UE continuará funcionando como uma "rede de segurança". O código obriga as nações européias a se certificarem de que as armas vendidas a outros países não serão utilizadas para repressão a populações locais nem para agressões a outras nações. Também não podem ser vendidas armas a países onde tenham ocorrido graves violações aos direitos humanos. Caso o embargo seja suspenso, a China já expressou interesse em comprar aviões Mirage franceses e submarinos alemães.

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