Último presidente do apartheid morre na África do Sul

Pieter W. Botha conduziu o país durante um período de intensa violência racial

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Por Agencia Estado
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Pieter W. Botha, o último presidente da África do Sul no regime do apartheid, morreu nesta terça-feira aos 90 anos. Ele conduziu o país durante um período de intensa violência racial e profundo isolamento internacional. O ex-presidente morreu enquanto dormia, em sua casa na província do Cabo Ocidental. Ironicamente, uma das primeiras organizações a oferecer condolências à família de Botha foi o Congresso Nacional Africano, partido considerado uma organização terrorista durante o governo de Botha e que atualmente governa a África do Sul. A atitude foi vista como uma tentativa de mostrar como uma nova África do Sul multirracial deve lidar com as cicatrizes de seu passado racista. "O Congresso Nacional Africano leva suas condolências e simpatia à família, amigos e colegas do ex-presidente P.W. Botha, que faleceu nesta noite. O CNA deseja força e conforto neste momento difícil", diz o comunicado distribuído pelo partido. Conhecido como o "Velho Crocodilo" por seu temperamento esquentado e maneiras rudes, ele foi líder do regime de minoria branca no país de 1978 a 1989. Durante sua liderança, ele resistiu às pressões internacionais para libertar o famoso prisioneiro político Nelson Mandela, que mais tarde viria a ser presidente do país. Botha foi substituído em 1990 por F. W. Klerk, que convocou, em 1994, as primeiras eleições multirraciais da África do Sul. O pleito foi vencido por Mandela, primeiro presidente negro sul-africano e Prêmio Nobel da Paz. O ex-presidente costumava descrever-se como o primeiro líder sul-africano a buscar uma reforma racial no país. Entretanto, sua administração foi marcada por uma defesa ferrenha do regime de apartheid, que levou a uma restrição às atividades de partidos políticos negros e à prisão de mais de 30 mil pessoas. Através de uma série de medidas liberalizantes, Botha procurou apoio entre as comunidades pardas e de origem asiática da África do Sul, criando câmaras parlamentares para essas minorias. Além disso, retirou as restrições aos casamentos interraciais. Mas para cada passo adiante, cinco eram dados para trás, o que levou a imposição de um estado de emergência em 1986. O período foi marcado pelas piores represálias aos movimentos negros em mais de quatro décadas de apartheid. Em 1998, Botha foi considerado culpado por crimes contra os direitos humanos cometidos durante seu governo, mas conseguiu escapar da condenação graças à saúde frágil.

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