Um ano depois, Haiti amplia cifra de mortos

Primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, revisa cálculo inicial que estimava número em 230 mil e diz que terremoto matou 316 mil

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Por Roberto Simon
Atualização:

Um ano depois do terremoto, a tragédia haitiana está longe do fim. Ontem, oficialmente, ganhou contornos mais catastróficos. O premiê Jean-Max Bellerive declarou que o novo número de mortos pelo tremor está agora estimado em 316.000. Até então, essa cifra era de 230.000. Alheios às cerimônias oficiais, haitianos homenagearam ontem por conta própria o primeiro aniversário do "gudu-gudu" - onomatopéia usada nas ruas de Porto Príncipe para se referir ao terremoto de 12 de janeiro de 2010.O sentimento geral no Haiti é que os resultados das grandes promessas internacionais foram parcos. O dinheiro parou na burocracia, a crise política impede a formação de um governo sólido e o futuro de 1 milhão de desabrigados - incluindo 320 mil crianças - é desconhecido.Procissões católicas com centenas de parentes e amigos de vítimas seguiam ontem pelas ruas da capital entoando rezas em creole. De Bíblia em mãos, fiéis trajavam roupa branca bem lavada. "Hoje é dia de sair à rua para rezar. Na rua, pois a catedral ruiu", explica Gordy Petit, de 23 anos, que vive numa tenda no campo de Trois Mains. Há um ano, ele e seu irmão, Jean, voltavam para casa do curso de inglês quando, por 12 segundos, a terra chacoalhou. "Perdi tudo: minha casa e minhas coisas. Mas sou sortudo, minha família inteira sobreviveu."Petit diz que menos "sortudo" é seu vizinho de tenda. Daniel Figuole, de 20 anos, perdeu a irmã, que estava na aula. O terremoto fez ruir a escola e todos os alunos morreram "de uma vez só", relembra Figuole. "Quando fui tentar encontrá-la, a escola havia sumido."Os irmãos Petit e ele hoje passam o dia sentados diante das barracas, cobertas com lonas doadas pela Usaid, agência humanitária dos EUA, observando a avenida. Existem no Haiti 1.200 mega-acampamentos como Trois Mains.O entulho do terremoto, que ainda está por toda parte. Estima-se que apenas 5% dos escombros tenham sido retirados até agora. O governo promete elevar essa cifra para 40% até outubro.Menos de 20% dos US$5,6 bilhões prometidos pela comunidade internacional foram entregues. Da quantia que chegou, a maior parte foi usada para pagar dívidas. Diante do pessimismo, o coordenador de ajuda humanitária da ONU, Nigel Fisher, falou o óbvio: "É impossível reconstruir um país pobre em um ano."

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