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Um ano depois, Katrina ainda marca imagem de Bush

Resposta ineficaz do governo ao desastre e esta percepção de insensibilidade de Bush ficarão nos livros de história como marcas negativas do atual presidente

Por Agencia Estado
Atualização:

Como Nova Orleans, George W. Bush nunca se reergueu dos destroços resultantes da passagem do furacão Katrina pela região do golfo do México há um ano. O conselheiro político da Casa Branca, Dan Bartlett, diz ser difícil separar o impacto Katrina de outros problemas que afligem o governo Bush, a começar pelo Iraque. Bartlett, é claro, complementa que o furacão foi um revés para a Presidência, mas a recuperação avança, tanto da região afetada, como da imagem de Bush. Claro que tudo é mais complicado. De fato, nas últimas semanas houve uma ligeira recuperação do índice de aprovação de Bush (ainda rondando os melancólicos 40%), mas o impulso foi a ansiedade terrorista gerada pela revelação em Londres de um suposto plano de atentados contra aviões em rotas transatlânticas. Imagens são duradouras. Existe o Bush resoluto e churchilliano, de megafone na mão, nos destroços do World Trade Center, dias após os atentados do 11 de setembro. Era o líder de um país em guerra, ali na trincheira. E existe a imagem do Bush a bordo do Air Force One sobrevoando a zona de destruição da região do golfo do México após a passagem de Katrina. Era o imperador distante, acusado de incompetente e de insensível à agonia de seus súditos pobres e negros. História James Thurber, historiador da American University, em Washington, não tem dúvidas. A resposta ineficaz do governo federal ao desastre Katrina e esta percepção de insensibilidade de Bush ficarão nos livros de história como marcas negativas do atual presidente. Barllett, o assessor da Casa Branca, obviamente rebate esta visão. Ele argumenta que é cedo para escrever os livros de história. Tudo dependerá do sucesso (ou não) da reconstrução da zona devastada pelo Katrina, em particular Nova Orleans. Em termos de história imediata não há dúvida que o impacto é negativo. As eleições para o Congresso estão aí em novembro e a oposição democrata não perde uma oportunidade para lembrar que Iraque e Katrina são manchas negras para Bush e suas legiões republicanas. Reação de Bush Acossado nas duas frentes, Bush faz o que pode para contra atacar. No caso do Iraque, sua mensagem mais recentes é curiosa. Ele tem alertado que as coisas estão difíceis nas bandas do golfo Pérsico, mas a retirada das tropas americanas poderia causar uma catástrofe ainda maior. Nas bandas do golfo do México existe uma mensagem sutil, flagrante na viagem pela região que o presidente está fazendo neste começo de semana para lembrar o primeiro aniversário de Katrina. A idéia é admitir que houve falhas na resposta do governo federal, mas que existe um processo de recuperação. O risco desta postura é que a opinião pública se fixe muito mais no indiscutível fiasco do passado do que em uma recuperação que no mínimo pode ser descrita como sofrível. O fato é que a desastrosa resposta de Bush e de seu governo ao furacão Katrina há um ano aconteceu quando já se formava uma percepção negativa sobre a Presidência e cresciam as dúvidas na opinião pública sobre o Iraque. Andrew Kohut, diretor do instituto de pesquisas Pew, ressalta que com Katrina não foi apenas a taxa de aprovação do governo que sofreu. Foi também o próprio índice de simpatia pessoal pela figura de Bush. Poderá ser um duro golpe para um presidente que sonha em deixar o legado de um conservador compassivo.

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