Um desafio aos franceses: Café americano em Paris

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Por Agencia Estado
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Conseguiria o filósofo francês Jean-Paul Sartre inspirar-se, degustando um café tipo java em copo de papel da Starbucks? A resposta é difícil, mas a empresa americana está disposta a desafiar uma longa e conhecida tradição dos franceses. Depois de muito pensar, o império do café rápido nos EUA está anunciando a abertura de sua primeira loja na França, um país onde os cafés de propriedade familiar são o ponto de encontro típico de motoristas de caminhão a filósofos. ?É com um extremo respeito e admiração pela sociedade do café na França que anunciamos nossa entrada no mercado?, disse o presidente da Starbucks, Howard Schultz, em uma entrevista à imprensa. Autores, filósofos e artistas transformaram a casa de café francesa numa cultura inconfundível, ele admitiu, mas acrescentou acreditar que a Starbucks ?se dará bem com a tradição do café francês?. O primeiro Starbucks francês será aberto no ano que vem, de preferência numa área turística do centro de Paris, perto da Ópera, segundo a empresa. Café é uma prática de séculos na França e muitas tradições ? como o kaffeklatsch em bistrôs enfumaçados servido por mal-humorados garçons de gravata borboleta ? dificilmente morrem. Sartre, o filósofo existencialista, era conhecido por se envolver em discursões altamente intelectuais nas salas enfumaçadas do Les Deux Magots, o famoso café da Rive Gauche. Mas iria o último dos pensadores, um freqüentador assíduo de cafés, gostar da experiência se não pudesse acender seu inseparável cachimbo? No Starbucks de Paris será permitido fumar. ?É algo que discutimos há muito tempo?, diz Franck Esquerre, diretor administrativo da Starbucks França. ?Nas lojas, continuaremos a ser ?no-smoking? para preservar a qualidade do café. Mas, em alguns casos, teremos mesas do lado de fora, onde as pessoas poderão fumar.? A empresa também deve enfrentar a muito forte reputação francesa de odiar cafés aguados, do tipo encontrado na maioria dos jantares americanos. Ele é chamado ?jus de chaussettes?, ou algo como suco coado em meias molhadas. O conceito ?leve para casa? não é novo na França. A cadeia de bares de café espresso Columbus Coffee, inaugurada em 1994, tem mais de 20 lojas em Paris. Mas ver-se passageiros de transportes urbanos carregando copinhos de papel é muito raro. A Stabrucks chegou à Europa via Inglaterra, em 1998, e agora tem lojas em dez países, como Áustria, Alemanha, Grécia, Espanha e Suíça. Seu sócio de joint venture na Espanha, o Grupo Vips, ajudará a empresa americana em seus esforços de conquistar a França. A cadeia, com sede em Seatle, com mais de 7.000 lojas em todo o mundo, vai provavelmente causar emoção na França, onde o a cadeia de lanchonetes McDonald?s tem provocado fogo em muitos círculos mais tradicionais. Alguns proprietários de cafés parisienses dizem que não estão preocupados com o mamute que entra agora na França. E até mesmo acham que a Starbucks vai reavivar o interesse pelo café. Christopher Drescher, co-proprietário do Olives Café et Restaurant, não muito longe da avenida Champs-Elysées, aponta para uma prateleira cheia de garrafas de licores e misturas que ele tenta vender a seus clientes, mas poucos querem mais que o espresso ou cappucino padrões. Com sua força de marketing, ele diz, a Starbucks pode ajudar a despertar o interesse por produtos como cafés gelados ou condimentados. ?Se mais pessoas soubessem que existem produtos além do café simples, isso nos ajudaria a vendê-los?, diz Drescher, um nativo de Staten Island, Nova York, que é proprietário do bistrô junto com sua mulher checa, Egona. Ele garante que não está se aflige com a possibilidade de a chegada da Starbucks significar o fim do bistrô de esquina. ?Infelizmente, o mundo está indo atrás do estilo Starbucks de marketing?, diz. ?Mas em Paris e outros lugares haverá sempre lugar para um café de esquina.?

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