Um dia antes do Nobel, China entregará seu 'prêmio da paz'

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A China entregará na quinta-feira o Prêmio Confúcio da Paz a um ex-vice-presidente de Taiwan, um dia antes da cerimônia em Oslo que concederá oficialmente o Prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês Liu Xiaobo. A concessão do Nobel a Liu, em outubro, irritou a China, já que o governo chinês vê o dissidente, que está preso, como um perigoso subversivo. O recém-criado Prêmio Confúcio, cujo nome alude ao antigo filósofo chinês recentemente "cooptado" pelo Partido Comunista, foi sugerido em um artigo publicado há três semanas no popular tabloide Global Times. "É uma espécie de resposta pacífica ao Prêmio Nobel da Paz de 2010, e (...) explica as opiniões do povo chinês sobre a paz", disseram os organizadores em nota divulgada por e-mail nesta quarta-feira. Depois do anúncio do Nobel para Liu, a esposa do dissidente e vários dos seus colaboradores foram detidos, e outros foram impedidos de sair da China, de modo que possivelmente ninguém aparecerá em Oslo na sexta-feira para receber, no lugar dele, a medalha do Nobel e o cheque de 1,5 milhão de dólares. O Prêmio Confúcio será entregue a Lien Chan, ex-vice-presidente de Taiwan. Outros cinco nomes haviam sido indicados: o presidente palestino, Mahmoud Abbas; o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela; Bill Gates, fundador da Microsoft; Qiao Damo, poeta chinês; e o Panchen Lama, segunda figura mais importante do budismo tibetano, nomeado para tal posição pelo regime chinês. Os organizadores disseram que Lien Chan acabou escolhido porque "construiu uma ponte de paz entre Taiwan e o continente (China), trazendo felicidade e sorte ao povo de ambos os lados do estreito (que separa Taiwan da China)". O convite para a cerimônia de premiação foi aparentemente feito por um departamento do Ministério da Cultura encarregado de proteção às artes locais, o que sugere ao menos um apoio parcial do governo ao prêmio. Em Taiwan, Ting Yuan-chao, assessor de Lien, disse não saber nada do prêmio. Em 2005, Lien se tornou o primeiro dirigente do partido nacionalista Kuomintang a visitar a China desde que os comunistas tomaram o poder em 1949, levando os nacionalistas a se exilarem em Taiwan. Na sua nota, os organizadores do Prêmio Confúcio sugeriram que um dia poderá haver uma cooperação entre eles e o comitê do Prêmio Nobel, eventualmente até mesmo concedendo prêmios conjuntos ao mesmo indicado. (Reportagem de Ben Blanchard, Huang Yan e Michael Martina)

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