Um ''Dream Team'' para o Oriente Médio

Equipe de Obama deveria ter assessor de origem árabe

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Por Roger Cohen
Atualização:

A equipe de Obama é muito econômica em matéria de informações, mas eu consegui um furo quanto aos assessores que ele reuniu para implementar uma nova política para o Oriente Médio, enquanto a guerra em Gaza segue devastadora: Shibley Telhami, Vali Nasr, Fawaz Gerges, Fouad Moughrabi e James Zogby. Este grupo de renomados acadêmicos americanos de origem árabe e iraniana, com ampla experiência na região, indicaria a disposição dos Estados Unidos de adotar uma nova mentalidade na questão do Oriente Médio e um exame profundo da utilidade ou não de uma ajuda a Israel totalmente desprovida de senso crítico. Mas, esqueçam o que acabei de dizer, deixei minha imaginação voar alto. Barack Obama não tem nenhum plano para a solução do problema israelense-palestino e o Irã. Na realidade, as pessoas que provavelmente exercerão uma grande influência no Oriente Médio no governo Obama têm uma interpretação totalmente diferente. Entre elas estão Dennis Ross (o veterano enviado para a paz no Oriente Médio do governo Clinton); James Steinberg (como vice-secretário de Estado); Dan Kurtzer (ex-embaixador americano em Israel); Dan Shapiro (há muito tempo assessor de Obama); e Martin Indyk (outro ex-embaixador em Israel, bastante próximo da futura secretária de Estado, Hillary Clinton). Conheço ou já falei com todas estas pessoas, com exceção de Shapiro. São cultas, têm uma mente aberta e são determinadas. No entanto, não há diversificação. No que se refere à tão esperada mudança, também deixam um pouco a desejar. Para Obama é importante que sua mensagem seja entendida logo no primeiro dia. É imprescindível mudar, e não apenas na intensidade do envolvimento diplomático americano com Israel e palestinos. É preciso fazer algumas importantes perguntas. Fará sentido considerar o Oriente Médio quase exclusivamente do ponto de vista da guerra ao terror? Será que fechar os olhos para os assentamentos israelenses na Cisjordânia, que frustram a solução dos dois Estados, e para o bloqueio israelense de Gaza, que radicaliza sua população, não prejudicará os interesses americanos, promovendo um moderado sentimento pró-palestino? Acaso as iniciativas no campo da política não deveriam visar a conciliação de um movimento palestino, atualmente dividido entre o Fatah e o Hamas, sem o qual não será possível a paz para a solução final? Levantar essas questões não altera o compromisso dos EUA com a segurança de Israel no que se refere às suas fronteiras anteriores a 1967, que é e deveria ser inabalável. Não muda a impossibilidade de aceitar os foguetes do Hamas ou o fato de que a Carta do Hamas é horrível. Mas assinalará que o consenso prejudicial da era Bush - segundo o qual Israel jamais faz algo errado - deve ser questionado. Parece que, nas democracias liberais, é somente no Congresso americano que a defesa contra o terror, que provoca o assassinato de centenas de crianças palestinas, não é motivo para um angustiante exame de consciência. Na minha opinião, esta "defesa" de Israel passou dos limites. "Todos somos contrários ao terrorismo", disse Telhami. "Mas de que modo isto poderá nos iluminar para que possamos avançar?" Esta iluminação exige uma equipe mais renovada, mais ampla para o Oriente Médio. Obama deveria tomar nota disso, nomear um americano de origem árabe e outro de origem iraniana nas funções mais importantes, e tomar cuidado com uma equipe que poderá levar ele - e a região - de volta para o futuro. *Roger Cohen é colunista do ?The New York Times?

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