Um incomum protesto de toda a região

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Por Simon Romero
Atualização:

Com a condenação do golpe que tirou do poder o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, governos ocidentais de todo o espectro ideológico chegaram imediatamente a uma rara unanimidade. Por outro lado, desde a reação moderada do governo dos EUA à reação belicosa do líder da Venezuela, Hugo Chávez, todas as repostas revelaram divisões entre os governos democráticos na região. De um lado, estão países como Venezuela, Bolívia e Equador, nos quais os eleitores concederam a seus presidentes populistas um poder muito maior, em parte permitindo o prolongamento do seu mandato e às vezes restringindo as funções do Congresso e da Suprema Corte, apontados como aliados da velha oligarquia. De outro, estão nações de vários tons ideológicos, como o Brasil, onde instituições mais flexíveis favoreceram mais diversidade na participação política, abrindo mão da chamada democracia participativa que Chávez tratou de promover na região. Zelaya levou ao limite essa tensão com as instituições em seu confronto com o Judiciário, na semana passada, ao pedir a realização de um plebiscito sobre a possibilidade de ser reeleito. No domingo, a Corte Suprema hondurenha informou que os militares haviam agido com Zelaya conforme a Constituição. Mas esses argumentos legalistas não dissuadiram os governos de condenarem o golpe, particularmente em países como Chile, Argentina e Brasil, onde permanecem as dolorosas memórias de abusos de direitos humanos perpetrados pelos militares que derrubaram os governantes civis nos anos 60 e 70. "A ideia de um envolvimento militar na destituição de um presidente é considerada uma heresia na maior parte da região", disse Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, organização que estuda a América Latina. Condenações do golpe foram unânimes em governos ideologicamente diferentes, como a comunista Cuba e a conservadora Colômbia. "Defender a democracia em Honduras é uma obrigação legal", afirmou Augusto Ramírez Ocampo, ex-chanceler da Colômbia. Os governos da região rejeitam mais os usurpadores militares do que as manifestações civis que, no início desta década, obrigaram líderes democraticamente eleitos a deixarem o poder na Argentina e na Bolívia. As iniciativas dos EUA sobre Zelaya também foram diferentes da resposta dada inicialmente por Washington ao breve golpe na Venezuela, em 2002, quando Bush culpou Chávez por sua própria queda. Após voltar ao poder, Chávez execrou Bush. Só agora os laços entre os dois países têm sido em parte restaurado. *Simon Romero é correspondente do ?NYT? em Caracas

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