11 de outubro de 2013 | 02h05
Duas horas mais tarde, o primeiro-ministro reapareceu. As pessoas compreendiam cada vez menos, mas respirava-se: um comunicado oficial anunciava aos líbios estupefatos que seu premiê fora encontrado. A nota precisava que Zaidan fora "solto" e não "libertado" - dando a entender que houve intervenção das forças líbias. Em outras palavras, não foi por vontade própria que os "ladrões do primeiro-ministro" teriam restituído seu roubo.
Descendo aos detalhes, os mistérios aumentam. Fica-se sabendo que os "ladrões do ministro" seriam brigadas formadas por antigos rebeldes reintegrados às forças de segurança da capital, Trípoli. Rumores sugerem até que essas duas brigadas teriam agido por ordem do governo. O que parece certo é que as "brigadas" teriam levado o premiê em represália de uma ação recente dos EUA. Seis dias atrás, as forças especiais americanas capturaram na Líbia - ilegalmente, portanto - Abu Anas al-Libi, que havia comandado em 1998 dois atentados contra as embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia.
A ação das forças especiais americanas em Trípoli indignou a população líbia. E seria a razão do sequestro do primeiro-ministro. Os líbios, aliás, não duvidaram por um instante de que o ataque americano contra Libi tinha sido operado com a anuência do governo de Trípoli. A prova: a captura do premiê Zaidan ocorreu depois de John Kerry, o secretário de Estado americano, ter afirmado que o governo líbio estava informado dessa operação.
Alguns dias atrás, a internet líbia estava saturada de mensagens indignadas denunciando o conluio do governo Zaidan com os EUA. Os internautas chegaram a criar um falso número do jornal francês Le Monde com o título mentiroso: "Zaidan entregou dois líbios à América".
Onde está o tal "terrorista"? Teria sido levado a Guantánamo? Não. Absolutamente. O presidente americano, Barack Obama, desde antes de sua primeira eleição, havia declarado sua aversão a essa prisão atroz e havia prometido esvaziá-la. Assim, ele encontrou uma solução estranha: Libi estaria em um navio de guerra americano no Mediterrâneo de modo que ele pode ser interrogado à vontade, longe de qualquer testemunha, antes de ser levado em terra firme nos EUA.
Os juristas de Obama dizem que esse procedimento está absolutamente em conformidade com o direito internacional. Outros afirmam o oposto. Mas não resolveremos essa questão delicada - nos contentaremos em nos perguntar se Obama não é, às vezes, um tanto hipócrita.
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
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