Um maluco e um insensato são as opções republicanas

Nos EUA, corrida republicana deve se polarizar entre candidatos com ideias estranhas sobre agendas interna e externa

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Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

A disputa republicana, provavelmente, ficará entre dois candidatos, com o resultado ainda em aberto. A questão é que um dos dois, Donald Trump, que ainda tem uma boa chance de se tornar o indicado do Partido Republicano para disputar a presidência, é uma figura sinistra. Suas ideias sobre política externa se reduzem à crença de que os EUA podem dar ordens a todo mundo e privilegiar a diplomacia é sinal de fraqueza. Suas ideias sobre política interna são profundamente estúpidas e desastrosas se colocadas em prática.

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O outro é Marco Rubio. Ele ainda precisa vencer uma primária, mas se tornou a opção do establishment republicano. Isso lhe dará uma chance de fato de vencer o homem que conquistou todos os delegados da Carolina do Sul? Não tenho ideia. Mas sei que não devemos considerar Rubio uma pessoa moderada e sensata. Pelo contrário, não faz muito tempo alguém afirmou que suas posições políticas eram estapafúrdias.

Deixemos de lado suas terríveis declarações sobre política externa e sua evidente disposição de jogar na fogueira as liberdades civis e se concentrar no que sabe melhor, a economia. Você deve saber que Rubio propõe enormes cortes de impostos e, entre outras coisas, sugere que se elimine os impostos cobrados de rendimentos obtidos com investimentos – o que significaria, por exemplo, que Mitt Romney pode não ter de pagar impostos federais.

No entanto, talvez você não saiba que os cortes propostos por ele são quase duas vezes maiores do que os pretendidos por George W. Bush em termos de porcentagem do PIB, apesar de a dívida federal hoje ser muito maior que há 15 anos e os republicanos terem passado a presidência de Obama advertindo que os déficits orçamentários podem destruir os EUA. Mas não se preocupe: Rubio insiste que os cortes se pagarão, pois levarão a um incrível crescimento econômico – mesmo não existindo nenhuma evidência provando tal afirmação.

Finalmente, temos a política monetária. Os republicanos passaram anos atacando os esforços do Federal Reserve para impedir o desastre econômico, alertando repetidamente para uma iminente inflação sem controle – no que erraram completamente. Rubio não mudou o tom, declarando há poucos dias que “não é tarefa do Fed estimular a economia (embora a lei afirme que sim).

Em resumo, Rubio defende uma economia absurda, mas o interessante é a razão disso. Ele não quer satisfazer os eleitores ignorantes, mas uma elite ignorante. A ascensão de Trump confirmou algo que as pesquisas já haviam indicado, ou seja, que muitos eleitores republicanos não estão de acordo com a ortodoxia oficial do partido. Trump se expressou de modo inefável sobre múltiplos temas, desde declarar que fomos enganados ao entrar em guerra para que fosse possível taxar mais os ricos. Assim, quando Rubio se ajoelha do lado da oferta e da moeda forte não está dizendo aos republicanos comuns o que desejam ouvir. Pelo contrário, ele quer satisfazer a elite do partido – grandes doadores, a rede de burocratas de centros de estudo, organizações de mídia e assim por diante.

Portanto, não permita que alguém lhe diga que a primária republicana é uma disputa entre um maluco e alguém mais sensato. É uma maluquice idiossincrática versus uma maluquice aprovada pelo establishment, e não sabemos qual é a pior. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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PAUL KRUGMAN É COLUNISTA