Um mês após o início dos ataques, EUA enfrentam novas ameaças

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Por Agencia Estado
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Nove dias depois dos devastadores ataques de 11 de setembro contra o World Trade Center e o Pentágono, o presidente George W. Bush preparou os Estados Unidos para a guerra. Num competente discurso ao Congresso, ele disse que a campanha contra o terrorismo seria longa, difícil e demandaria paciência dos americanos. Diante de um país traumatizado pela brutalidade dos ataques, pela perda de milhares de vidas num intervalo de um par de horas e pela súbita descoberta de um sentimento novo de insegurança e vulnerabilidade, o presidente pediu que as pessoas retomassem o curso normal de suas vidas. "Eu peço (também) sua participação e sua confiança na economia americana", disse Bush. Passado um mês do início da resposta militar dos EUA contra o Afeganistão, cujo regime abriga a rede terrorista que Washington acredita estar por trás dos atentados, os americanos continuam a dar sólido apoio a seu presidente na conduta da guerra contra o terrorismo. Mas o conflito ampliou-se em direções que Bush provavelmente não antecipara, os americanos enfrentam novas ameaças, a guerra propriamente dita não vai bem e a economia do país está no buraco. No campo de batalha, mais duas mil incursões aéreas pela força militar mais sofisticada do planeta contra um país primitivo não produziram nenhuma vitória significativa ou mudança na relação de forças entre o regime do Tabelan e seus adversários internos da Aliança do Norte. Na quinta-feira, o Pentágono reconheceu que problemas como tempestades de areia e a resistência do Taleban, que vem enfrentando para colocar unidades terrestres de comandos no Afeganistão, dificultaram o trabalho de seleção visual de alvos para bombardeios mais eficazes contra as tropas fiéis ao regime de Cabul. A explicação não convenceu a direita republicana, que vê na guerra contra o terrorismo uma oportunidade para liquidar todos os inimigos dos Estados Unidos no Oriente Médio, no Golfo Pérsico e onde quer que eles esteja. "Vamos parar de negar a penosa verdade", escreveu William Kristol, editor da revista Weekly Standard e arauto da campanha para tirar o secretário de Estado Colin Powell do governo, que os ultraconservadores acusam de ser excessivamente diplomático e dado a soluções de compromisso. "Nós provavelmente não podemos vencer a guerra sem tropas terrestres". Por ora, a idéia de engajar dezenas de milhares de soldados para um corpo-a-corpo com talebans no terreno inóspito do Afeganistão, não é contemplada. E não é certo que, se e quando vier a sê-lo, ela terá o apoio da população. Com a frente externa da guerra empacada, inacessível em sua maior parte às câmaras da televisão e, possivelmente, fadada a arrastar-se por meses, senão anos, a atenção dos americanos voltou-se para a ameaça imediata e que, de seu ponto de vista, é mais concreta: os ataques de antraz, que ninguém sabe se estão relacionados com os eventos de 11 de setembro, e a possibilidade de novas incursões terroristas em território americano. No momento, os alvos - reais ou imaginários - são as grandes pontes da Califórnia. A dimensão das duas ameaças não parece justificar o pânico que elas provocaram. Os casos de doentes contaminados com antraz não chega a vinte em todo o país. Até agora, morreram apenas quatro pessoas. Mas o episódio, que tirou a guerra das manchetes de jornais por vários dias, revelou a precariedade da resposta do governo ao bioterrorismo e certamente não contribuiu para convencer os americanos a voltar a ter uma "vida normal". No caso das pontes da Califórnia, o próprio governador do Estado, o democrata Gray Davis, encarregou-se de espalhar a intranquilidade - sem motivo, segundo as autoridades federais. Apenas três dias depois de o FBI ter divulgado seu segundo alerta geral, advertindo a população para a possibilidade de um atentado terrorista em lugar incerto e hora não sabida, "nos próximos dias", Davis avisou os californianos que as grande pontes de São Francisco, Los Angeles e San Diego poderiam ser alvos de ataques durante a hora do "rush", entre os dias 2 e 7 deste mês. O governador pediu-lhes, também, para continuar a usar as pontes e a confiar nas autoridades. A divulgação, na semana passada, do mais azedo conjunto de estatísticas econômicas em quase vinte anos confirmou que os efeitos reais e psicológicos do ataques de 11 de setembro apressaram a chegada de uma recessão que já se anunciava. Nem tudo é má notícia na frente econômica. A estabilização do mercado de ações sugere a convicção, entre os investidores, de que a contração não será longa. Mas os esforços políticos para garantir o retorno do crescimento ilustraram a brevidade da harmonia bipartidária que surgiu no Congresso. Apesar dos apelos de Bush, Câmara e o Senado parecem irremediavelmente divididos sobre o que fazer e é possível que não cheguem a um entendimento. Com a guerra mal parada em todas as frentes, Bush dedicará esta semana a reafirmar sua estratégia. Além de receber vários líderes estrangeiros na Casa Branca, entre eles o presidente Fernando Henrique Cardoso e fazer um discurso nas Nações Unidas, em busca de apoio e simpatia para a campanha contra o terrorismo que começa a se dissipar, ele cuidará da frente interna. Na quarta-feira, deve fazer um balanço do primeiro mês da guerra, num discurso ao país, no qual reiterará aos americanos a importância da paciência e da persistência na luta contra o terrorismo.Leia o especial

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