Um quarto dos americanos tem pouco ou nenhum interesse em vacina contra covid-19

Mais de um terço dos entrevistados disse que estariam menos dispostos a tomar uma vacina se Trump dissesse que ela é segura; preferência é por estudos científicos

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Por Redação
Atualização:

Um quarto dos americanos tem pouco ou nenhum interesse em tomar uma vacina contra o novo coronavírus, revelou uma pesquisa da Reuters e do Ipsos publicado nesta quinta-feira, 21. Enquanto especialistas em saúde dizem que uma vacina é necessária para retornar à 'vida normal', a pesquisa aponta para um potencial problema de confiança para o governo de Donald Trump, criticado pela orientação contraditória durante a pandemia.   

Mais de um terço dos entrevistados - 36% - respondeu que estaria menos disposto a tomar uma vacina se Trump dissesse que ela é segura - e 14% afirmaram que estariam mais interessados se ele fizesse isso. A maioria dos entrevistados na pesquisa com 4.428 adultos dos EUA, realizada entre 13 e 19 de maio, disse que seria influenciada por orientações da agência estatal responsável pela administração de alimentos e medicamentos ou por resultados de estudos científicos em larga escala mostrando que a vacina era segura.

Mais de 100 vacinas estão em fase de desenvolvimento ao redor do mundo Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Illustration

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Menos de dois terços dos entrevistados disseram estar "muito" ou "um pouco" interessados ​​em uma vacina - número que especialistas em saúde esperavam ser maior, dadas as mais de 92 mil mortes relacionadas ao coronavírus somente nos EUA, epicentro da doença no mundo. 

"É um pouco menor do que eu pensava com toda essa atenção à covid-19", disse William Schaffner, especialista em doenças infecciosas e vacinas do Centro Médico da Universidade Vanderbilt, em Nashville. "Esperava algo em torno de 75%". Por sua vez, 14% dos entrevistados disseram que não estavam "nem um pouco" interessados ​​em tomar uma vacina e 10% disseram ter pouco interesse. Outros 11% não souberam responder. 

Entre os entrevistados que manifestaram pouco ou nenhum interesse, quase metade disse estar preocupada com a velocidade com que a vacina está sendo desenvolvida. Mais de 40% disseram acreditar que ela pode ser mais arriscada que a própria doença.

No entanto, 84% dos entrevistados disseram que as vacinas para doenças como sarampo são seguras para adultos e crianças, sugerindo que as pessoas que hesitam em tomar uma vacina contra o coronavírus podem mudar de ideia, dependendo das garantias de segurança que recebem. 

A desinformação sobre vacinas se tornou mais prevalente nas mídias sociais durante a pandemia, segundo pesquisadores. "Não é de surpreender que uma porcentagem significativa de americanos não tome a vacina por causa das mensagens terríveis que recebemos, a ausência de um plano de comunicação em torno da vacina e esse movimento anti-vacina muito agressivo", disse Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical do Baylor College of Medicine, que desenvolve uma vacina.

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Tempo de produção 

Trump prometeu ter uma vacina pronta até o final do ano, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem falado em no mínimo 18 meses. Muitos especialistas acreditam que uma vacina totalmente testada e aprovada pelo governo não estará amplamente disponível até meados de 2021, no mínimo.

Existem mais de 100 vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento em todo o mundo, incluindo algumas já em ensaios clínicos em humanos. 

Polarização política 

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A pesquisa destaca como a crescente polarização do país afetou a visão das pessoas sobre a pandemia. Quase um em cada cinco republicanos diz não ter interesse em uma vacina, mais do que o dobro da proporção de democratas. Trump, um republicano, tem dado mensagens contraditórias sobre a pandemia.

Já subestimou a seriedade da pandemia e incentivou protestos públicos contra o distanciamento social, destinadas a retardar a propagação do patógeno. Também pediu aos americanos que experimentem tratamentos não comprovados, como a hidroxicloroquina, que ele disse na segunda-feira que toma há semanas, apesar das advertências sobre seu uso por especialistas em saúde.  / Reuters 

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