Uma Força Aérea de robôs contra novo inimigo

Tragédia de 2001 deu impulso à revolução de aviões não tripulados

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Na primeira terça-feira de outubro de 2001, o piloto de combate Michael W. tomou café da manhã na casa dos pais: "panquecas com calda de mirtilo e pão de milho doce", lembra. Na madrugada seguinte, ele estaria em uma base de transição na Ásia, a caminho do Paquistão. A bordo de um caça F-16, Mike cumpriria dezenas de missões de ataque durante a guerra de 70 dias no Afeganistão até a queda do regime taleban - que, segundo o governo de George W. Bush, dava abrigo e apoio logístico à Al-Qaeda. Fazia frio em Iowa naquele outono. Na hora da despedida, o pai de Mike, veterano do Vietnã, bateu uma solene continência para o filho. Daniel W. morreria de enfarte três semanas depois, trabalhando na lavoura de milho da família. Foi sepultado ao lado do avô de Mike, piloto na Guerra da Coreia.O mais novo das três gerações de militares acabou no Brasil, engenheiro de uma empresa do setor petrolífero. Antes disso, integrou o grupo de especialistas da Força Aérea encarregados das definições dos aviões não tripulados (UAVs, na sigla em inglês). Esse novo equipamento representaria a mais importante revolução tecnológica decorrente dos atentados de 2001. Segundo Mike, os EUA dispunham, em condições de uso, de apenas um modelo, o Predator-I, equipado com um conjunto eletrônico de baixa resolução. Hoje, o programa dessa aeronave está em sua quarta geração. Lança mísseis e bombas de precisão. Pode permanecer no ar por 24 horas. Suas lentes e sensores funcionam em quaisquer condições, dia e noite. Até maio haviam sido fabricados cerca de 500 deles, ao custo unitário de US$ 4,5 milhões. Não é a versão mais sofisticada. O RQ-4 Global Hawk, da Northrop Grumman, é o maior e o mais avançado entre os 47 diferentes UAV"s dos EUA. Boa parte de suas capacidades são ainda mantidas em sigilo. As informações sobre o eventual sistema de armas, por exemplo. Grande como um avião de 16 lugares, o Global Hawk mede 13,54 metros e tem 35,4 m de envergadura. Na velocidade de cruzeiro, cerca de 650 km/h (a máxima é de 800 km/h), pode permanecer 36 horas no ar, coletando informações sobre uma área de 103,6 mil quilômetros quadrados.Bases em terra. O RQ-4 decola no Afeganistão - mas é pilotado de terra, em bases remotas, uma delas no Estado do Wisconsin, no centro-leste do território americano. Custa US$ 39 milhões cada. Mas o programa de desenvolvimento já consumiu US$ 1,64 bilhão, aplicados na 1,5 tonelada dos recursos eletrônicos de bordo - destinados a localizar, identificar e seguir dezenas de alvos simultaneamente, orientando as armas contra eles. Em missão de inteligência, faz a mesma coisa, mas escutando e registrando imagens mesmo sob nuvens pesadas ou tempestade de areia.É proporcionalmente pouco dinheiro numa guerra que, até maio, custou US$ 1,2 trilhão e mudou tudo - até a arquitetura das Forças. Gradualmente, os 2 milhões de combatentes americanos serão readequados em unidades de ação específica, mobilização e deslocamento rápidos. No viés da inteligência, movimento radical. As 13 agências que havia antes dos atentados são atualmente 19. Em 2010, o número de funcionários empregados nelas chegava a 854 mil.Aliado" na miraSó em 2010, estima-se que aviões não tripulados dos EUA tenham atacado 120 vezes o Paquistão, suposto aliado de Washington contra a Al-Qaeda. Entre 600 e 1.000 pessoas teriam morrido

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