´Uma Guerra Fria foi o suficiente´, diz Gates sobre Putin

Em discurso no sábado, líder russo acusou Washington de querer impor um mundo "unipolar", promover ações unilaterais e fomentar uma corrida armamentista

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Por Agencia Estado
Atualização:

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, respondeu com humor às acusações contra os Estados Unidos feitas pelo presidente russo, Vladimir Putin, durante a Conferência de Segurança de Munique. Em tom de brincadeira e sem citar nominalmente o presidente russo, Gates atribuiu o fato a "coisas de ex-espiões". Em discurso no sábado, Putin acusou Washington de querer impor um mundo "unipolar", fomentar guerras, promover ações unilaterais à margem da legalidade internacional e de planejar uma "militarização" do espaço que teria conseqüências e ações contrárias à não-proliferação. "Como velho lutador da Guerra Fria tenho que dizer que um dos oradores de ontem (Putin, ex-agente da KBG) me fez sentir certa nostalgia de uma época menos complexa", declarou Gates ao se dirigir à Conferência como orador de um painel sobre relações transatlânticas. Em uma aparente tentativa de amenizar as tensões entre os dois países, o secretário de Defesa americano ressaltou a necessidade de se ampliar as parcerias entre as nações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Rússia. "Nós todos enfrentamos problemas em comum e desafios que devem ser resolvidos em parceria com outros países, incluindo a Rússia", disse Gates. E, voltando-se ao discurso de Putin, acrescentou: "Uma Guerra Fria foi o suficiente." Durante seu discurso no sábado, Putin acusou a administração Bush de "exceder suas fronteiras nacionais em todos os sentidos" através de suas ações "unilaterais e ilegítimas". Com palavras duras, o presidente russo também culpou as políticas americanas por incitar outros países a desenvolverem armas nucleares para se defenderam de um "quase incontido uso da força militar". O discurso foi considerado o mais crítico à Washington desde que Putin assumiu a presidência russa, há sete anos. As discussões sobre se as políticas de Washington estão criando uma nova Guerra Fria dominaram o encontro de três dias, que reuniu 250 ministros, militares e especialistas em segurança de todo o planeta. Gates, entretanto, disse que é hora de esquecer a Guerra Fria e seguir em frente. "A Rússia é uma parceira natural", disse ele. "Eu não acho que alguém queira uma nova Guerra Fria com a Rússia." O secretário americano, entretanto, procurou usar o bom humor para diminuir o impacto do discurso de Putin. "Muitos dos senhores têm passados ligados à diplomacia e a política, um passado muito diferente da carreira no mundo da espionagem. E suponho que os velhos espiões têm uma forma peculiar de falar", continuou Gates, que tem um passado ligado à CIA, referindo-se às origens de Putin, que foi agente da KGB. Por fim, ele disse que teve que se reeducar para viver no mundo de hoje. "Estive em um campo de reeducação. Fui quatro anos e meio presidente universitário e já se sabe que nessa posição só há duas opções: ser amável e ficar, ou desagradável e ir embora".

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