Uma Rússia que ressurge

Vladimir Putin quer derrotar Ucrânia, pois sabe que ideias democráticas são contagiosas

PUBLICIDADE

Por ARSENITY e YATSENYUK
Atualização:

A Ucrânia vem travando uma guerra em duas frentes. A que assistimos pela TV é combatida a leste do nosso país, onde milhares de tropas russas estão envolvidas numa agressão armada contra a integridade territorial da Ucrânia, incluindo a anexação ilegal da Crimeia.Menos visível, mas também importante, é a guerra contra o passado soviético e o legado de corrupção e desgoverno que nos manteve atrasados por tantos anos. Essas batalhas têm de ser travadas e vencidas, pois envolvem basicamente a mesma coisa: o desejo da Ucrânia de criar um futuro democrático e próspero. O presidente russo, Vladimir Putin, quer nos derrotar porque sabe que ideias democráticas são contagiosas e uma Ucrânia livre seria um exemplo inoportuno em seu país. A intervenção militar da Rússia é uma tentativa de impedir as mudanças forçando-nos a decidir entre a segurança e a reforma.Os ucranianos estão unidos na rejeição dessa alternativa. Sabemos que a única maneira de termos controle de nosso futuro é construir uma sociedade ocidental moderna tendo por base um governo responsável, uma economia de livre mercado e um Estado sob o império da lei. Em vez de diminuir o ritmo das mudanças econômicas e políticas, nós o estamos acelerando.Muitas reformas emblemáticas já foram adotadas. Conseguimos garantir uma disciplina orçamentária severa e iniciamos uma desregulamentação da economia em grande escala para eliminar toda a confusão burocrática que sufoca as empresas e possibilita a corrupção.Estamos eliminando a influência perversa de magnatas empresariais na vida pública e econômica. Delegamos autoridade financeira para as comunidades locais, mais próximas dos nossos cidadãos.Nossa difícil decisão de estabelecer altas tarifas de gás domésticas removerá uma das principais artérias de corrupção, aumentará a eficiência, impulsionará a produção doméstica e reduzirá a necessidade de importações da Rússia.Iniciamos uma série de prisões e investigações ligadas à corrupção, que envolvem autoridades do alto escalão do governo. Reduzimos de modo significativo o número de funcionários públicos. O sistema fiscal vem sendo simplificado para estimular os investimentos e reduzir a fraude.E estes são apenas os tópicos mais importantes de um programa muito mais extenso.A responsabilidade pela realização dessas reformas é somente da Ucrânia. Mas necessitamos do apoio de nossos parceiros para estabilizar nossa economia e impedir uma nova agressão russa quando os expulsarmos.Estamos gratos pela ajuda que já recebemos. Não teríamos conseguido estabilizar nossa posição financeira sem o programa firmado com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Precisamos de mais apoio na forma de uma ajuda bilateral dos Estados Unidos, assistência técnica, investimentos privados e liderança dentro das instituições financeiras internacionais. É preciso também que as sanções internacionais contra a Rússia continuem até o Acordo de Minsk ser totalmente aplicado.Ninguém tem dúvidas quanto ao que está em jogo. A grande realização de uma "Europa inteira e livre" que marcou o fim da Guerra Fria está sob ataque direto do autoritarismo e imperialismo russos. A Ucrânia arcou com o impacto desse ataque, mas se for permitido que nossa independência seja esmagada, as consequências não se limitarão ao nosso país. Surgirão novas ameaças e crises ainda mais difíceis e caras para solucionar. A própria ideia democrática ficará corroída.Juntos, podemos impedir isso. Com o nosso firme compromisso com a realização das reformas e o apoio de nossos parceiros, realizaremos os sonhos de liberdade e prosperidade de nossa nação. A democracia é a ideia mais poderosa até hoje concebida e especialmente quando nações democráticas se colocam lado a lado. Esta foi a lição da liderança dos Estados Unidos no século passado. Hoje é a nossa inspiração. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINOÉ PRIMEIRO-MINISTRO DA UCRÂNIA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.