
13 de agosto de 2011 | 09h27
As cicatrizes deixadas pela violência são visíveis nos prédios incendiados e nas lojas destruídas no bairro de Tottenham, onde começou a onda de distúrbios em Londres.
Mas, passada uma semana desde o primeiro dia de confrontos, enquanto máquinas consertam o asfalto danificado por um ônibus em chamas, ficam claros os esforços e a determinação para reconstruir a comunidade.
A atitude é resumida por Barbara, de 72 anos, que morou toda a sua vida em Tottenham: "Ninguém está deprimido. Que escolha temos, a não ser tentar fazer o melhor possível?"
Ela está entre os membros da igreja St Mary the Virgin, que fica a poucos metros de uma loja destruída pelos saques e que abriu na manhã seguinte ao primeiro dia de violência para prover refúgio a bombeiros. Ali perto, cartazes anunciam a realização de uma marcha pela paz.
Agora, a igreja está servindo os trabalhadores da construção civil local com chá, sanduíches e bolo.
'Comunidade boa'
Barbara diz ver com otimismo a atmosfera do bairro.
"Percebi, caminhando na rua, que pessoas geralmente ocupadas agora dizendo 'bom dia' enquanto passam", contou. "É uma pena o que aconteceu em Tottenham, mas nos recuperaremos. É uma boa comunidade."
O sentimento é compartilhado por um dos policiais que patrulham uma das ruas interditadas do bairro. Ele disse que, em geral, a população agradeceu a maior presença policial.
Os distúrbios londrinos começaram depois que a polícia matou Mark Duggan, de 29 anos, em Tottenham, morte esta seguida de um protesto pacífico diante da delegacia local.
O policial consultado pela BBC no bairro diz, com cautela, que a atmosfera em Londres pós-onda de violência é menos tensa. "Antes, você percebia que as coisas iam mal."
Todas as folgas policiais estão canceladas até a próxima terça. Até lá, o policial terá trabalhado 16 dias consecutivos. "Em geral, a população não costuma dizer coisas boas sobre os policiais. Mas, num momento em que têm medo, as pessoas apreciam a (ação da) polícia."
Negócios abalados
O empreendimento Thompson's Seafoods, que existe há 22 anos em Tottenham, teve de ser fechado por conta do perímetro de isolamento imposto pelos policiais.
O funcionário James Pledger disse que os lucros estão dois terços menores do que em épocas normais, mas que ele se considera "sortudo" pelo fato de o comércio onde trabalha não ter sido destruído.
"As pessoas ainda estão um pouco temerosas de voltar às ruas, mas é preciso seguir em frente. Não podemos deixar que eles (agressores) nos abalem", disse Pledger.
Bob Thompson, dono do negócio, defende o bairro de Tottenham.
"Há 47 nacionalidades aqui; nunca havíamos tido problemas", declarou. "É uma pena. Todos pareciam felizes na tarde de sábado (passado). Daí acordei no domingo, liguei a TV e pensei que estava na Irlanda do Norte (geralmente associada a conflitos sectários na Grã-Bretanha). Fiquei chocado ao ver que era Tottenham."
Ele recomenda que seus vizinhos "relaxem e tentem voltar à vida normal. Esteve tudo bem pelos últimos 20 anos."
Mark St-Clair, de 37 anos, mora em frente a uma loja de tapetes completamente destruída nos distúrbios.
Ele estava viajando quando a onda de violência se desencadeou, mas sua companheira e dois filhos estavam em casa, "com as malas prontas" para partir por terem percebido a presença de delinquentes diante de sua porta.
Apesar do trauma, ele se diz otimista quanto ao futuro. Inclusive se casou na última quinta-feira na igreja de St Mary, em uma cerimônia um pouco afetada pelas circunstâncias.
"A rua estava bloqueada, então tivemos que dar uma volta (para chegar). E muitas pessoas com quem trabalho ficaram com medo de vir", disse.
"É terrível que (a violência) tenha escalonado a partir de um protesto pacífico - as pessoas se aproveitaram disso e decidiram fazer o que veio na cabeça."BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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