Unesco comemora retorno dos EUA

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Por Agencia Estado
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Depois de 18 anos de ausência, os Estados Unidos estão voltando à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco. Um dos mais satisfeitos na sede da Unesco, em Paris, com o anúncio do presidente George W. Bush, era o diretor-geral, o japonês Koichiro Matsuura, pois a ausência da maior potência mundial enfraquecia politicamente a organização. Hoje, o delegado permanente do Brasil na Unesco, embaixador José Israel Vargas, considerou positiva a volta dos EUA, afirmando que era "incompreensível que a comunidade intelectual e científica dos EUA pudesse continuar fora da organização". Esse país, que contribuía com 25% do orçamento da Unesco, decidiu afastar-se durante a administração de Ronald Reagan, em dezembro de 1984, não só por ter constatado desvios ideológicos, mas também em razão de denúncias sobre uma administração calamitosa e mesmo corrupção na gestão do senegalês Mohdar M´Bow. O relatório, redigido pelo Congresso norte-americano, afirmava, entre outras coisas, que a Unesco havia se transformado numa organização com orçamento incontrolável, onde todas as decisões eram adotadas de forma centralizada pelo seu diretor-geral, muito pouco transparentes. Na verdade, naquele período prevalecia ainda a "guerra fria", e os Estados Unidos criticavam "a forte hostilidade no interior da organização contra os valores do mundo livre". O delegado dos EUA, à época, Jean Gerard, chegou a citar como exemplo o apoio dado pela Unesco aos programas culturais da OLP, a Organização de Liberação da Palestina, o movimento de Yasser Arafat, na ocasião tido como bem mais radical do que nos dias de hoje. Para os EUA dos anos Reagan, a Unesco havia se lançado numa "cruzada antiocidental", procurando forçar a aprovação graças a uma maioria obtida entre os países do bloco soviético e do terceiro mundo à chamada "nova ordem mundial da informação". Hoje, em Argel, onde se encontra, o embaixador do Brasil na Unesco, José Israel Vargas, falando à Agência Estado, explicou que não era mais possível que a influente comunidade cientifica norte-americana permanecesse afastada, especialmente a Academia de Ciências dos EUA , cujo papel e influência são muito importantes na área científica e de novas tecnologias. Ele explicou que, na sua opinião, o afastamento dos EUA se deveu a uma aliança entre o bloco soviético e o terceiro mundo, aprovando resoluções que os norte-americanos censuravam. Outro motivo que levou os EUA a se afastarem da Unesco durante esses últimos 18 anos foi sua dificuldade em aceitar que seu voto pudesse ter o mesmo peso do voto dos pequenos países do Caribe. Na Unesco, ao contrário da ONU, não existe um Conselho de Segurança, representado apenas por um número limitado de países com direito a veto. Com a volta dos EUA, a Unesco vai também resolver um problema financeiro grave, pois mesmo sendo sua contribuição inferior a anterior, os norte-americanos deverão participar com 20%, um quinto do orçamento. O Brasil, mesmo não estando inteiramente em dia, pagou uma parte importante do que devia. O embaixador Israel Vargas entregou, há dias, um cheque de 7 milhões de dólares à direção da Unesco.

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