União Europeia enfrenta pressão por vacinas e 'desunião' entre países-membros

Bloco europeu tenta impedir que Estados-membros fechem suas fronteiras entre si, ao mesmo tempo que busca destravar campanha de vacinação

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Por Redação
Atualização:

Com a crescente pressão pelo avanço da campanha de vacinação contra a covid-19 e vendo seus Estados-membros tomando decisões isoladas para conter a pandemia - o que vai de encontro aos seus pilares fundadores - a sede da União Europeia se converteu em um "gabinete de crise".

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Bruxelas tenta restaurar a confiança dos países na capacidade do bloco em gerir a resposta à pandemia, mas vê cada vez mais iniciativas de governos nacionais indo de encontro às definições do bloco.

Uma cúpula virtual com os 27 chefes de Estado e de governo da União Europeia foi convocada para quinta-feira, 25, a fim de debater como acelerar o combate à pandemia. Temas como a produção de imunizantes e o uso de passaportes de vacinação pelos cidadãos europeus estarão em pauta.

Os líderes europeus reunidos em Bruxelas Foto: Yves Herman/AP

"Por essa ser uma questão política, acho importante que todos tenham uma chance justa de participar", disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.

A busca por uma solução acordada com os chefes de Estado vem em um momento de cobrança por vacinas. Nesta quarta-feira, 24, a Hungria começou a usar a vacina da chinesa Sinopharm, ainda não autorizada por autoridades do bloco. O país também havia autorizado o uso da vacina Sputnik V, de fabricação russa, autorizada apenas pela agência nacional.

"Hoje nós começamos a inocular as doses da vacina chinesa", disse o primeiro-ministro Viktor Orbán em um vídeo publicado em seu Facebook.

Enquanto Orbán anunciava o uso do imunizante chinês, von der Leyen, fazia uma declaração sobre o andamento da vacinação no continente. Ela afirmou que a campanha de imunização está quase alcançando os patamares do Reino Unido - que deixou vem sendo usado como parâmetro por outros Estados-membros após deixar o bloco.

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Em entrevista ao jornal alemão Augsburger Allgemeuine - citada pelo jornal britânico The Guardian - von der Leyen disse compreender a "impaciência" pela vacinação. "Compreendo muito bem a impaciência de que, agora que a vacina está disponível, os cidadãos queiram ser vacinados o mais rápido possível e, finalmente, estar protegidos", disse ela. E completou: "Estamos alcançando o atraso. A Grã-Bretanha inoculou 17 milhões de primeiras doses. Existem 27 milhões na UE."

A publicação britânica aponta que, de acordo com os últimos dados, 27% da população do Reino Unido recebeu a primeira dose da vacina, contra apenas 6% da população da UE.

Vacinacontra a covid-19 Foto: Carl de Souza/AFP

O atraso pode ser justificado principalmente pelo atraso na entrega da vacina por fornecedores como a AstraZeneca, a Moderna e a Pfizer. No fim de janeiro, uma investigação chegou a ser aberta para identificar se vacinas produzidas no bloco pela AstraZeneca foram destinadas ao Reino Unido.

Na terça-feira, em um novo caso de dúvida sobre a produção, a AstraZeneca negou relatos de que entregaria menos da metade das vacinas covid-19 que foi contratada para fornecer no segundo trimestre. A empresa disse que estava se esforçando para aumentar a produtividade para entregar as doses prometidas de 180 milhões de suas cadeias de abastecimento globais.

Fechamento de fronteiras preocupa

Os atrasos na campanha de vacinação e o aumento da curva de contágio em alguns dos principais países europeus provocou um "efeito divisor" no bloco. Países começaram a fechar suas fronteiras para cidadãos europeus, o que vai de encontro ao princípio basilar da União Europeia de livre circulação de pessoas e mercadorias.

Bruxelas fez uma advertência a seis países - Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Hungria e Suécia - pela imposição de restrições em suas fronteiras, incluindo a proibição de entrada e saída de pessoas e bens.

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Os países terão 10 dias para responder à Comissão Europeia sobre a suspeita de violação das diretrizes definidas para a pandemia.

Um dos casos mais problemáticos foi o fechamento da fronteira da Alemanha com a Áustria, o que gerou uma crise diplomática, com o embaixador alemão em Viena sendo convocado para justificar a medida.

A UE publicou diretrizes sobre o combate ao coronavírus em janeiro, recomendando que os países mantivessem suas fronteiras abertas e que "desencorajassem fortemente" viagens não essenciais, com a opção de impor testes e quarentena aos viajantes de áreas com altos níveis de infecção.

No entanto, a organização está determinada a evitar que o cenário visto nos primeiros meses de pandemia, em 2020, repitam-se. Na época, uma série de decisões unilaterais causaram caos nas fronteiras e ameaçaram inclusive as cadeias de abastecimento da região.