Universidade ganha legado de estudante negra que vetou

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Em 1935, Alice Jackson Stuart ousou fazer algo sem precedentes: foi a primeira estudante negra a solicitar ingresso na Universidade da Virgínia. A direção da universidade, fundada por Thomas Jefferson, recusou o pedido por escrito, alegando as leis vigentes no Estado e também ?outros motivos válidos e suficientes, que não é preciso enumerar aqui.? A moça enviou outra carta, solicitando que os motivos fossem detalhados. Nunca recebeu resposta. As corajosas tentativas de Alice para mudar a política da universidade são pouco conhecidas atualmente. Mas, em sua época, provocaram manchetes nos jornais e contribuíram para a promulgação de uma lei de bolsas para estudantes negros da Virgínia freqüentarem escolas profissionais fora do sistema estatal. Quinze anos depois, a Universidade de Virgínia aceitou alunos negros. Agora, os ensaios de Alice Stuart, suas cartas, discursos e documentos, incluindo a correspondência com a universidade, foram doados à instituição por seu filho, Julian Houston. ?Doar seus documentos à universidade que lhe negou acesso será uma justiça poética para minha mãe?, ele explicou. Houston, juiz do Tribunal Superior de Massachussetts, diz que várias universidades, incluindo Tulane e Emory, estavam interessadas nas 30 caixas de documentos deixadas por Alice, em 2001, quando morreu aos 88 anos. Os documentos ?não apenas representam uma história da universidade, como também do sul dos Estados Unidos?, diz Michael Plunkett, diretor das coleções especiais da biblioteca da Universidade de Virgínia. Embora a universidade já tivesse farta documentação sobre o caso, segundo o historiador Scott French, ?não tínhamos era sua perspectiva sobre isso. Não tínhamos suas próprias palavras.? Como a razão que a levou a pleitear a vaga: ?Em minha condição de contribuinte?, ela explicou numa entrevista de 1987, ?supus que preenchia os requisitos para freqüentar a universidade.? Segundo Houston, sua mãe, em que pese seu papel pioneiro, nunca chegou a ser muito conhecida no movimento pelos direitos civis por causa de sua modéstia. Apesar disso, quando sua solicitação e a recusa foram divulgados pela universidade e pela Associação Nacional para o Progresso das Pessoas do Cor (NAACP), ela tornou-se o centro de uma ruidosa polêmica. ?É essencial para o bem-estar da raça branca, e também da negra, que as duas recebem educação em separado?, chegou a afirmar, em editorial o Richmond Times-Dispatch, em setembro de 1935. Quando solicitou sua inscrição na universidade, Alice tinha 22 anos, um título da União Universitária da Virgínia, de Richmond, e créditos de estudos avançados do Smith College.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.