Com a imagem de um governo manchado por denúncias de corrupção e episódios de violência, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, enfrenta hoje um teste nas urnas. A baixa popularidade não deve sacrificar seu Partido Revolucionário Institucional (PRI) nas eleições legislativas e locais, mas a decepção com o líder poderá lhe custar algumas cadeiras no Parlamento, tornando mais difícil para ele governar nos seus três últimos anos de mandato.
A popularidade de Peña Nieto é uma das mais baixas para um presidente mexicano nos últimos anos. Segundo o analista do Instituto México do Wilson Center Roderic Ai Camp, as urnas enviarão um recado afetando, em geral, o desempenho do PRI nas urnas. "Esse resultado tornará mais difícil para ele alcançar as legislações necessárias para lidar com as sérias questões no México", afirma, em entrevista ao
Estado
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Os mexicanos elegerão hoje 9 de 32 governadores, a nova formação da Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas e prefeituras em 17 Estados.
Quando tomou posse, em 2013, Peña Nieto era visto como um reformador. Passados quase três anos, casos de corrupção envolvendo seu nome e episódios de violência no país puseram fim à lua de mel entre o novo líder e os mexicanos.
O advogado e professor da Universidade Iberoamericana Netzaí Sandoval explica que Peña Nieto perdeu legitimidade de forma acelerada e agora os escândalos marcam seu governo. "Ele esteve envolvido em conflitos de interesse que, se fosse em qualquer outro país, teriam resultado em um processo de impeachment", afirma ao
Estado
. Sandoval se refere ao escândalo envolvendo a compra de uma casa de US$ 7 milhões pela primeira-dama Angélica Rivera de uma construtora que teve diversos contratos com o Estado mexicano.
Além disso, um dos principais episódios que contribuiu para a queda na popularidade do presidente foi o caso dos 43 estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa, ano passado. A versão oficial é a de que eles foram sequestrados e mortos por traficantes, mas parentes e entidades de defesa dos direitos humanos não concordam e continuam com outras investigações.
Por outro lado, segundo Sandoval, o Partido Ação Nacional (PAN), segunda força no México, chega dividido para a disputa. Atualmente, dos 500 assentos, o PRI têm 214 e o PAN, 113.
De acordo com a última pesquisa autorizada no México, divulgada na quarta-feira, o PRI aparecia na frente com 31% das intenções de voto. Na sondagem, do Instituto Financiero-Parametría, o PRI tinha uma vantagem de seis pontos sobre o PAN, que aparecia com 25%.
O instituto informou ter registrado uma queda na preferência pelo PRI a partir de julho e agosto de 2014, período em que a aprovação ao governo Peña Nieto também começou a cair.
Nos dois meses anteriores, o partido chegou a registrar 46% da preferência dos eleitores, mas em seguida esse número caiu para 35%. Desde então, continuou caindo. Mesmo assim, permanece à frente. O partido, segundo as pesquisas e a opinião dos analistas, garantirá a maioria para o presidente, mas seu desempenho refletirá o descontentamento da população.
Boicote.
Nos últimos dias, tornaram-se frequentes os pedidos de boiote às eleições. Em Guerrero e outros locais, manifestantes saíram às ruas pedindo às pessoas que não compareçam às urnas. O principal argumento: a violência no México.
O descontentamento, associado ao medo da violência que se agravou às vésperas da votação, deverá se refletir em uma baixa participação. O cenário, segundo Camp, beneficia o PRI por ter uma capacidade maior de mobilizar sua base.
Para Sandoval, não só o PRI, mas o PAN também sai ganhando. "Isso convém aos dois partidos, que contam com mais dinheiro público e privado para comprar votos e assegurar porcentagens (voto na legenda)", argumenta.
Essas também são as primeiras eleições após a reforma eleitoral no país, ano passado. Uma das principais mudanças é a abertura do sistema eleitoral a registro de candidatos não vinculados a partidos. Um exemplo é o caso do candidato ao governo de Guerrero Pablo Amilcar Sandoval, com chances de vitória. O político falou em tornar públicas as declarações patrimoniais de funcionários do Executivo e ter uma legislação de crimes de corrupção.
Camp afirma que candidatos independentes são uma "opção fascinante" nessas eleições e muitos mexicanos têm demonstrado intenção de dar seu voto a eles. No entanto, é muito difícil a preferência se traduzir em vitórias. "A maioria dos eleitores indica preferência por candidatos com experiência política ou pública", pondera Camp.