Uruguai decide entre projetos divergentes em segundo turno de eleição

José Mujica e Luis Alberto Lacalle se enfrentam nas urnas neste domingo.

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Por Marcia Carmo
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Cerca de 2,5 milhões de uruguaios vão às urnas neste domingo para escolher entre dois candidatos que apresentam modelos políticos e econômicos divergentes, no segundo turno das eleições presidenciais do país. De um lado está o governista José "Pepe" Mujica, da coalizão Frente Ampla. Ex-guerrilheiro e ex-ministro da Agropecuária da administração do atual presidente, Tabaré Vázquez, Mujica obteve 48% dos votos no primeiro turno das eleições, realizado no último dia 25 de outubro. Seu opositor, que obteve 29% dos votos no primeiro turno, é Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional (Blanco), e que foi presidente do Uruguai entre 1990 e 1995. Divergências Os dois candidatos apresentam projetos de governo divergentes em áreas que vão da segurança pública à política externa. Mujica, por exemplo, defende um aumento na carga tributária para a parcela mais rica da população, além da ampliação da isenção de impostos para a parcela mais pobre. O candidato governista também promete a ampliação dos programas de saúde adotados pelo governo de Tabaré Vázquez e um incremento no orçamento para a segurança pública, com aumento de salários para policiais. Lacalle, por sua vez, já afirmou que pretende "passar a motosserra" nos gastos públicos, além de prometer uma redução na carga tributária para a pessoa física. O ex-presidente também defende um "maior rigor" no combate à criminalidade no país. Mercosul A questão do Mercosul, bloco do qual também fazem parte Brasil, Argentina e Paraguai, é outro alvo de divergências entre os dois candidatos à Presidência do Uruguai. Mujica quer uma maior integração do Uruguai com os outros países do bloco e defende a intensificação da circulação de pessoas entre os membros, em um Mercosul que vá além de questões comerciais. Já Lacalle, que assinou o tratado de criação do bloco quando era presidente, em 1991, chegou a declarar que o Mercosul "precisa de uma pausa para reflexão" e defende que o Uruguai "tenha maior liberdade" para negociar com outros países e blocos. Para o candidato oposicionista, o Mercosul deveria "se limitar ao econômico e comercial", já que "não foi criado para ser um bloco político". Ainda no plano internacional, Mujica procurou atrelar sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegando a usar imagens de um encontro entre os dois em Brasília durante sua campanha. Lacalle, por sua vez, criticou a aproximação do adversário com o presidente brasileiro. "Mujica diz que se alinha com o Brasil de Lula e eu digo que o Uruguai não se alinha com ninguém mais do que com o próprio Uruguai", disse o ex-presidente à emissora de TV argentina TN. Diálogo Os dois candidatos, no entanto, concordam ao defenderem uma maior abertura para investimentos externos no país e ao prometerem dialogar com a oposição caso sejam eleitos. Para analistas e políticos ouvidos pela BBC Brasil, seja qual for o resultado das eleições deste domingo, "negociação" deverá ser a palavra-chave do próximo governo do Uruguai. "Se for eleito presidente, Mujica terá que negociar bastante. Ele não tem o apoio de toda a coalizão governista Frente Ampla", afirma o sociólogo Eduardo Botinelli, da consultoria Factum. No primeiro turno, a Frente Ampla conseguiu a maioria das cadeiras no Congresso uruguaio, o que também obrigaria Lacalle a ter que negociar com os partidos da coalizão caso seja eleito. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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