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Vacinar é motivo de vergonha em comício de Trump

Reações se dividem entre os que orgulhosamente afirmam que não tomaram a vacina e os que, de maneira reativa, não respondem

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Por Beatriz Bulla
Atualização:

WELLINGTON, EUA  - Tornou-se trivial perguntar, em grandes cidades dos Estados Unidos: “você se vacinou contra covid?” Nos grandes centros, a imunização dá direito a frequentar aulas em academia de ginástica, festas de aniversário só com convidados já vacinados, shows de música e circular sem máscara pelas ruas. No comício do ex-presidente Donald Trump, no entanto, a reação é diferente.

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“Eu tenho direito de não responder isso”, afirma o aposentado Mark Gnatowski, de 62 anos, com indignação. A reportagem do Estadão abordou mais de duas dezenas de admiradores do presidente que estiveram no evento de Trump no último fim de semana em Wellington, Ohio. Ninguém disse ter se vacinado. As reações se dividem em duas categorias: os que orgulhosamente afirmam que não tomaram a vacina contra covid-19 e os que, de maneira reativa, não respondem.

“Você está violando o HIPAA ao perguntar isso”, respondeu Denise, uma republicana que não quis divulgar seu sobrenome e posou para foto ao lado de três amigas, que também se recusaram a responder sobre a vacinação. A sigla HIPAA, que se refere à lei americana de proteção ao sigilo de informações de saúde, é usada com frequência pelos presentes. 

Eleitoras de Trump em Ohio preferem não dizer se já foram vacinadas Foto: Beatriz Bulla/ Estadão

A ideia de que a legislação da década de 90 proíbe pessoas de serem questionadas sobre condições de saúde é falsa, apesar de ser disseminada por figuras do conservadorismo americano, como a deputada Marjorie Taylor Greene. O foco da lei, na verdade, é proteger informações de saúde de um indivíduo do compartilhamento sem seu conhecimento, quando feita por instituições específicas, como os convênios de saúde. 

A legislação não proíbe que pessoas sejam questionadas sobre informações relacionadas à saúde, afirmaram especialistas em direito da saúde ao jornal Washington Post, que publicou uma reportagem em maio para esclarecer a questão. 

Com camisetas de apoio a Trump, Josh Basham, de 36 anos, e a namorada Lisa Swords, de 28, estão no grupo dos que declaram que não irão se vacinar. Fazer o contrário, segundo eles, seria incoerente.

“Eu não acredito em coronavírus. É apenas uma gripe comum. Pandemia, para mim, é quando as pessoas caem mortas nas ruas e eu não vejo isso acontecendo”, afirma Basham, seguidor do ex-presidente. Os EUA são o país com mais mortes por covid-19 registradas no mundo: mais de 600 mil.

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Em Ohio, o governador republicano prometeu sortear cheques de US$ 1 milhão (o equivalente a R$ 5 milhões) aos vacinados, para estimular a imunização. Não é o suficiente para parte dos presentes no comício de Trump, como Matthew e Jonathan Kraskey, pai e filho, se vacinarem. Aos 52 anos, Matthew, fazendeiro da região, argumenta que as vacinas não funcionam se forem aplicadas no meio da pandemia. 

Matthew e Jonathan Kraskey não quiseram se vacinar Foto: Beatriz Bulla / Estadão

Os condados ao redor da região têm taxa de vacinação em menos de 40%, abaixo da média nacional. A resistência dos republicanos em áreas rurais desacelerou a imunização e coloca em risco a bem sucedida estratégia de vacinação americana. Até agora, os EUA têm 54% de toda a população com ao menos uma dose, mas há doses disponíveis em abundância pelo país.

Em mais de 1 hora e 30 minutos de discurso, o ex-presidente não pediu a seus apoiadores que se vacinassem contra covid-19. Uma breve menção aos imunizantes foi feita por Trump para dizer que a produção foi realizada em tempo recorde, ao contrário do que seus críticos previam. Nada além disso. Outro sinal que destoava dos presentes, com relação ao restante do país: a ausência de máscaras. 

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