Vaticano faz duras críticas ao unilateralismo de Bush

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Por Agencia Estado
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O diretor da Rádio Vaticano, padre Pasquale Borgomeo, criticou severamente o "unilateralismo" da política da administração Bush, tanto no que diz respeito tanto à cúpula de Johannesburgo sobre o meio ambiente como em sua política internacional e sua luta, apenas em termos militares, contra o terrorismo. "A ausência do presidente (George W.) Bush em Johannesburgo não é um bom sinal. Parece confirmar, também em relação a um problema tão fundamental como o ambiente, esse unilateralismo da administração americana de que se lamentam cada vez mais os aliados europeus e tão incompatível, no fundo, com uma vocação para a liderança mundial, como é atualmente a dos EUA", disse o jesuíta em uma entrevista divulgada pelo canal em FM "One-O-Five", da emissora pontifícia. "Em nome de que valores do Ocidente, que também proclama querer defender, a superpotência americana se distancia de seus aliados europeus como, por exemplo, no caso do Protocolo de Kyoto e do Tribunal Penal Internacional?", perguntou o padre Borgomeo. Passando à situação internacional, "o que mais preocupa é que os EUA continuam considerando a ação militar como o meio mais eficaz para combater o terrorismo, e o ataque ao Iraque como uma prioridade", afirmou o diretor da Rádio Vaticano. "Quando se considera o que foi feito pela administração - acrescentou -, ou melhor, o que não foi feito em relação ao conflito do Oriente Médio, fica difícil entender qual é a estratégia da Casa Branca. A situação trágica em que se encontra hoje a Terra Santa não é uma demonstração de habilidade política ou de prestígio moral para os EUA". "Não ter levado em consideração (o fato de) que a não-solução do conflito entre palestinos e israelenses levaria à multiplicação dos focos de terrorismo no mundo árabe e muçulmano demonstra, lamentavelmente, que a administração Bush considera tão eficaz a opção militar contra o terrorismo - destacou o religioso - que aceita as recaídas políticas como efeitos colaterais inevitáveis". "Mas será que podem ser considerados efeitos colaterais as conseqüências que teria nos países árabes e muçulmanos um ataque contra o Iraque?", perguntou. Após o 11 de setembro, o presidente Bush, na opinião do padre Borgomeo, "prometeu uma eficaz mobilização patriótica, mas também um inapropriado espírito de cruzada contra o mal". "Lamentavelmente - prosseguiu -, faltou uma reflexão adequada e em todos os níveis sobre a recente política internacional dos EUA. Para a pergunta instintiva que muitos em Nova York se faziam em 11 de setembro, ´por quê nos odeiam tanto?´, não creio que o cidadão médio americano tenha encontrado uma resposta satisfatória", concluiu o diretor da emissora do Vaticano.

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