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Vazamento ajuda rede Al-Qaeda, dizem EUA

Publicação de lista de locais estratégicos para os americanos expõe instalações a ataques, afirma porta-voz do Departamento de Estado

Por Denise Chrispim Marin CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

O Departamento de Estado qualificou de "irresponsável" a divulgação, pelo site Wikileaks, da lista de locais do mundo considerados estratégicos pelos Estados Unidos. Ao avaliar o impacto da ação, o porta-voz da diplomacia americana, Philip Crowley, afirmou que o WikiLeaks extrapolou seu objetivo de desafiar os EUA e transformou pontos vitais para outros países em alvos de possíveis ataques da rede terrorista Al-Qaeda. "Isso é uma irresponsabilidade. Uma informação é classificada como secreta por uma boa razão, especialmente quando envolve infraestrutura que apoia nossa economia e a de outros países", afirmou Crowley. "O que Julian Assange (fundador do WikiLeaks) divulgou equivale a uma lista de alvos que será de interesse de grupos como a Al-Qaeda", completou.O Departamento de Estado classifica o vazamento dos 251 mil telegramas diplomáticos pelo WikiLeaks como um "ato criminoso" de Assange, a quem se refere como um "anarquista". Em sua reação, o governo americano vem insistindo que a divulgação desses textos pôs em risco as pessoas mencionadas - em boa parte, informantes da diplomacia americana - e as negociações em curso sobre temas de relevância regional ou mundial. Na mesma linha, o governo britânico condenou novamente ontem o vazamento pelo seu prejuízo à segurança nacional dos EUA.Para Moisés Naim, sócio sênior do Carneggie Endowment for Internacional Peace, o último vazamento do WikiLeaks não foi mais grave do que os anteriores. A lista de locais estratégicos para os EUA, seja do ponto de vista de infraestrutura como de fornecimento de minérios e medicamentos, não é uma novidade para especialistas na área internacional, ponderou ele. Além disso, qualquer país terá sua própria lista de recursos no exterior dos quais depende. Ministro de Comércio e Indústria da Venezuela nos anos 80 e 90, Naim considerou estranha apenas a ausência das reservas de petróleo e gás de seu país nessa lista. "Qualquer terrorista pode identificar alvos no mundo que afetariam interesses americanos em uma consulta à internet. Não precisaria de uma lista como a divulgada pelo WikiLeaks", afirmou.NEGATIVA...Thomas FriedmanColunista do "New York Times"OK, admito. Gosto de ler correspondência alheia, como qualquer pessoa. Então, os telegramas do WikiLeaks foram uma leitura fascinante para mim. O que está nas entrelinhas, porém, é outro assunto: os EUA estão perdendo poder. Geopolítica é uma questão de influência. E os americanos não podem estar a salvo no exterior se não mudarem seu comportamento na própria casa. Mas a política no país nunca conecta os dois aspectos. Os EUA perdem sua influência por causa de seus vícios no petróleo do Oriente Médio e no crédito chinês - e o WikiLeaks mostra o sapo que o país tem de engolir por esses motivos.... POSITIVAAlbert HuntEditor executivo da Bloomberg NewsO WikiLeaks é como uma história em que paixões nos cegam para lições. Desde o vazamento dos telegramas diplomáticos, ocorreram discussões sobre constrangimentos de países, se Julian Assange deveria processado e se a imprensa foi responsável. Todas erram o alvo. Não há dúvidas de que esses documentos complicarão a diplomacia americana por certo período. Déspotas deverão se afastar. Mais do que expor inépcia, porém, os documentos secretos transmitem uma imagem positiva sobre a política e a diplomacia americanas. Juntamente com a boa fofoca, a maioria dos telegramas revelou similar profissionalismo, provavelmente para a decepção dos fãs do WikiLeaks.

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