Veja a íntegra do discurso de Obama sobre a Síria

O presidente dos EUA disse que o país está pronto para atacar Síria, mas quer aval do Congresso

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Por Redação
Atualização:

Boa tarde a todos. Dez dias atrás, o mundo assistia horrorizado enquanto homens, mulheres e crianças eram massacrados na Síria no pior ataque com armas químicas do século 21. Ontem, os Estados Unidos apresentaram uma explicação contundente de que o governo sírio era responsável por este ataque ao seu próprio povo.

 

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Nossa inteligência mostra o regime de Assad e suas forças se preparando para usar armas químicas, lançando foguetes em subúrbios densamente populosos de Damasco, e admitindo que houve um ataque com armas químicas. E tudo isso corrobora o que o mundo pôde ver claramente - hospitais abarrotados de vítimas; imagens terríveis de mortos. Ao todo, mais de 1.000 pessoas foram assassinadas. Muitas centenas delas eram crianças - meninas e meninos atacados com gás mortal por seu próprio governo.

 

Este ataque é um assalto à dignidade humana. E também apresenta um sério perigo para nossa segurança nacional. Ele ameaça desmoralizar a proibição global ao uso de armas químicas. Ele coloca em risco nossos amigos e nossos parceiros ao longo das fronteiras da Síria, incluindo Israel, Jordânia, Turquia, Líbano e Iraque. Ele pode acarretar uma escalada no uso de armas químicas, ou a sua proliferação para grupos terroristas que causariam grandes danos a nosso povo.

 

Num mundo com muitos perigos, esta ameaça precisa ser enfrentada. Agora, após cuidadosa deliberação, eu decidi que os Estados Unidos devem empreender uma ação militar contra alvos do regime sírio. Não seria uma intervenção por tempo indeterminado. Não colocaríamos soldados no terreno. Nossa ação seria planejada para ser limitada em duração e alcance. Mas estou confiante de que podemos responsabilizar o regime de Assad pelo uso de armas químicas, dissuadir esse tipo de comportamento, e degradar sua capacidade de mantê-lo.

 

Nossas forças militares têm equipamentos posicionados na região. O chefe do Estado-Maior Conjunto me informou de que estamos preparados para atacar no momento que quisermos. Ademais, o chefe me indicou que nossa capacidade de executar esta missão não tem prazo marcado; ela será tornada efetiva amanhã, ou na próxima semana, ou daqui a um mês. E estou preparado para dar essa ordem.

 

Mas tendo tomado minha decisão como comandante baseado no que estou convencido de que é dos nossos interesses de segurança nacional, estou também consciente de que sou o presidente da democracia constitucional mais antiga do mundo. Acredito desde há muito tempo que nosso poder está enraizado não só em nossa força militar, mas em nosso exemplo como governo do povo, pelo povo, e para o povo. E é por isso que tomei uma segunda decisão: buscarei autorização para o uso da força dos representantes do povo americano no Congresso.

 

Nos últimos dias, ficamos sabendo de membros do Congresso que queriam que suas vozes fossem ouvidas. Concordo plenamente. Assim, esta manhã, falei com todos os quatro líderes do Congresso, e eles concordaram em programar um debate e depois votar assim que o Congresso sair do recesso.

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Nos próximos dias, meu governo continuará pronto para oferecer a cada membro as informações de que precisar para compreender o que ocorreu na Síria, e por que isto tem profundas implicações para a segurança nacional dos Estados Unidos. E todos nós deveríamos ser responsáveis à medida que avançarmos, e isto só pode ser alcançado com uma votação.

 

Estou confiante na decisão que nosso governo tomou sem esperar pelos inspetores da ONU. Estou tranquilo de avançar sem a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas que, até agora, tem estado completamente paralisado e sem disposição de cobrar responsabilidade de Assad. Por consequência, muitas pessoas foram contrárias a levar esta decisão ao Congresso, e, com certeza, elas foram impactadas pelo que viram acontecer no Reino Unido esta semana, quando o Parlamento de nosso mais próximo aliado não aprovou uma resolução com finalidade similar, apesar de o primeiro-ministro ser favorável a uma ação.

 

No entanto, apesar de acreditar que tenho a autoridade para realizar esta ação militar sem autorização congressional específica, sei que o país será mais forte se nós adotarmos este curso, e nossas ações serão ainda mais eficazes. Devemos fazer este debate, porque as questões são grandes demais para agirmos de maneira normal. E nesta manhã, John Boehner, Harry Reid, Nancy Pelosi e Mitch McConnell concordaram que esta é a coisa certa a fazer para nossa democracia.

 

Um país enfrenta poucas decisões tão graves como usar a força militar, mesmo quando essa força é limitada. Eu respeito às visões dos que pedem cautela, particularmente no momento em que nosso país sai de um período de guerra que eu fui eleito, em parte, para encerrar. Mas se realmente quisermos nos esquivar de empreender a ação apropriada em face de um ultraje tão inenarrável, então teremos de aceitar os custos de não fazer nada.

 

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Esta é pergunta que faço a cada membro do Congresso e a cada membro da comunidade global: que mensagem enviaremos se um ditador ataca com gás e mata centenas de crianças à vista de todos e não paga nenhum preço? Qual é o propósito do sistema internacional que construímos se uma proibição ao uso de armas químicas que foi acatado pelos governos de 98% dos povos do mundo e aprovado de maneira avassaladora pelo Congresso dos Estados Unidos não for aplicada?

 

Não se enganem - isto tem implicações que vão além da guerra química. Se não fizermos a cobrança de responsabilidades em face deste ato hediondo, o que isto dirá sobre nossa resolução de enfrentar outros que descumprem regras internacionais fundamentais? A governos que decidissem construir armas nucleares? A terroristas capazes de espalhar armas biológicas? A exércitos que praticam genocídio?

 

Não podemos criar nossos filhos em um mundo no qual não cumprimos as coisas que dizemos, os acordos que assinamos, os valores que nos definem.

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Portanto, assim como levarei este caso ao Congresso, também enviarei esta mensagem ao mundo. Apesar de a investigação da ONU ainda ter algum tempo até reportar suas descobertas, insistiremos para que a atrocidade cometida com armas químicas não seja simplesmente investigada, ela tem de ser confrontada.

 

Não espero que cada nação concorde com a decisão que tomamos, Privadamente, podemos ouvir muitas expressões de apoio de nossos amigos. Mas eu pedirei aos que se importam com o mandado da comunidade internacional que apoiem publicamente nossa ação.

 

E, finalmente, eu direi o seguinte ao povo americano: sei perfeitamente que vocês estão cansados de guerra. Terminamos uma guerra no Iraque. Estamos terminando outra no Afeganistão. E o povo Americano tem o bom senso de saber que não podemos resolver o conflito subjacente na Síria com nossas forças militares. Naquela parte do mundo, há diferenças sectárias antigas, e as esperança s da Primavera Árabe desencadearam forças de transformação que precisarão de muitos anos para resolver. E é por isso que não estamos estudando a colocação de nossos soldados no meio de uma guerra alheia.

 

Continuaremos a apoiar o povo sírio, contudo, mediante nossa pressão sobre o regime Assad, nosso compromisso com a oposição, nossa atenção aos refugiados, e nossa busca de uma solução política que resulte em um governo que respeite a dignidade de seu povo.

 

Mas estamos nos Estados Unidos, não podemos nem devemos fazer vista grossa para o que houve em Damasco. Das cinzas da Guerra Fria, construímos uma ordem internacional e aplicamos as regras que lhe deram significado. E o fizemos porque acreditamos que os direitos dos indivíduos de viver em paz e dignidade dependem das responsabilidades das nações. Não somos perfeitos, mas esta nação, mais do que qualquer outra, tem se mostrado disposta a cumprir essas responsabilidades.

 

Portanto, a todos os membros do Congresso de ambos os partidos, eu peço que façam este voto pela nossa segurança nacional. Estou ansioso pelo debate. E com isso eu lhes peço, membros do Congresso, para considerar que algumas coisas são mais importantes do que diferenças partidárias ou a política do momento.

 

Em última instância, isso não tem a ver com quem ocupa a presidência em um dado momento; tem a ver com quem somos enquanto país. Eu acredito que os representantes do povo precisam estar comprometidos no que a América faz no exterior, e esta é a hora de mostrar ao mundo que a América cumpre seus compromissos. Nós fazemos aquilo que dizemos. E nós conduzimos com a crença de que o Direito faz a Força e não o contrário.

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Todos nós sabemos que não há opções fáceis. Mas eu não fui eleito para evitar decisões difíceis. E não o foram tampouco os membros da Câmara e do Senado. Eu lhes disse o que acredito que nossa segurança e nossos valores exigem que não nos esquivemos ante o massacre de incontáveis civis com armas químicas. E nossa democracia é mais forte quando o presidente e os representantes do povo se unem.

 

Estou pronto para agir em face deste ultraje. Hoje estou pedindo ao Congresso para enviar uma mensagem ao mundo de que estamos prontos para avançar juntos como uma nação.

 

Muito obrigado.

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