Vendados e amarrados, irmãos são expulsos da Cisjordânia

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Por Agencia Estado
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Israel expulsou dois palestinos da Cisjordânia para a Faixa de Gaza nesta quarta-feira. Os dois foram levados com os olhos vendados a um pomar deserto, na primeira vez que o Estado judeu obrigou parentes de militantes a deixarem a região onde vivem. O líder palestino, Yasser Arafat, condenou duramente as expulsões, que foram autorizadas por uma corte israelense. "É um crime contra a humanidade", declarou. O Exército de Israel argumenta que a ameaça de sanções contra familiares é uma poderosa arma de dissuasão contra palestinos propensos a promoverem atentados. Numa decisão anunciada ontem, a Suprema Corte de Israel autorizou a expulsão de parentes de supostos militantes extremistas, mas apenas se estes representarem uma ameaça a Israel. A corte autorizou a expulsão de Intisar e Kifah Ajouri, irmãos de Ali Ajouri, um suposto especialista em bombas. Uma autorização semelhante para a expulsão de um terceiro palestino foi derrubada pelo mesmo tribunal. Israel acusa Ali Ajouri de ter enviado dois militantes suicidas a Tel Aviv em 17 de julho, quando eles detonaram explosivos atados ao corpo, suicidando-se e matando dois israelenses e quatro estrangeiros. Ajouri foi assassinado dias mais tarde num ataque militar israelense. O Exército de Israel transportou hoje os irmãos de Ajouri em veículos blindados. Eles foram levados a um pomar isolado já em território controlado pelos palestinos para evitar a presença de curiosos e jornalistas que esperavam por eles no entroncamento de Erez, entre Gaza e Israel. Uma vez em Gaza, "eles rodaram conosco durante uns 20 minutos", relatou Intisar Ajouri durante entrevista coletiva concedida na Faixa de Gaza. Ela contou ter sido vendada. "De repente eles nos tiraram dos tanques, soltaram nossas mãos e nos deixaram no meio de um pomar cheio de figueiras e parreiras. Andamos até encontrar um fazendeiro", prosseguiu. "Perguntamos a ele onde estávamos. Ele nos contou que estávamos num local muito perigoso, onde quatro palestinos foram assassinados na semana passada. O fazendeiro nos disse: ´Corram! Corram antes que eles (os soldados) atirem em vocês´", concluiu. O Exército de Israel informou ter dado mil shekels (quantia equivalente a US$ 212) para "despesas com acomodação" durante os dois anos de exílio em Gaza. A expulsão é vista como uma punição gravíssima. Os palestinos costumam viver com suas famílias sempre por perto, são muito apegados às raízes de sua comunidade e vivem numa sociedade menos propensa à migração - em comparação com as sociedades ocidentais. O ministro de Defesa de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, alertou que o Exército pretende expulsar mais familiares suspeitos de "terrorismo". Após os atentados de julho, o Exército deteve 19 parentes de militantes e pretende expulsar todos para Gaza. Porém, a procuradoria-geral de Israel limitou a punição aos acusados de envolvimento direto em ataques. Os militares acreditam que medidas como expulsar familiares e demolir as casas das famílias palestinas são eficientes para dissuadir palestinos dispostos a atacar Israel. O último atentado suicida ocorreu em 4 de agosto. Apesar de não ocorrer nenhum ataque há exatamente um mês, Israel insiste que a atividade extremista não foi contida pelas medidas de segurança adotadas pelos palestinos, mas graças a suas duras ações militares, como a tomada pelo Exército dos maiores centros populacionais palestinos e a adoção de medidas cada vez mais restritivas à vida dos palestinos comuns. Arafat culpa Israel pela violência e acusa o Estado judeu de não ter cumprido um acordo para amenizar a tensão. "Infelizmente, o que vemos aqui é uma escalada cada vez maior das ações israelenses", declarou o líder palestino em Ramallah, na Cisjordânia, após uma reunião com Per Stig Moeller, ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, país que ocupa atualmente a presidência rotativa da União Européia (UE). Por sua vez, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, comentou numa entrevista a uma emissora de televisão local que, em quase dois anos de violência, pela primeira vez ele vê a possibilidade de um acordo político com os palestinos. Segundo ele, muitos deles perceberam que não podem derrotar Israel pela força. Sharon voltou a descartar a possibilidade de negociações com Arafat, acusando-o de ser "responsável pelo terrorismo", mas disse que "ele poderia conversar com os palestinos que chegaram à conclusão de que nada pode ser conquistado por meio do terrorismo". Na entrevista, concedida ao Canal 2 da TV israelense, Sharon disse que não pediria aos Estados Unidos que atacassem o Iraque. "Este é um problema norte-americano, mas apoiamos qualquer decisão adotada por eles a respeito da continuidade da guerra contra o terrorismo."

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