Venezuela começa 2003 com greve

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Por Agencia Estado
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A Venezuela começou 2003 com uma greve que entra nesta terça-feira no 32º dia consecutivo, prejudicando a indústria petrolífera, responsável por metade dos investimentos do país e por 80% das divisas internacionais. A greve, promovida desde o dia 2 de dezembro do ano passado pela Confederação de Trabalhadores de Venezuela (CTV) e pela Fedecámaras (federação dos empresários), com adesão, depois, de grande parte dos funcionários da Petróleos de Venezuela (PDVSA), vem perdendo força, pelo menos no comércio. Mas o setor petrolífero não mostra ainda sinais de reativação. Com isso, a população continua sofrendo os impactos da escassez de combustíveis e de gás doméstico. Nesta quinta-feira, o secretário geral da Organização de Estados Americanos (OEA), César Gavíria, retomará a mediação das negociações entre representantes da oposição, que quer derrubar o presidente Hugo Chávez do poder e a antecipação de eleições, e do governo. Embora os sinais de esvaziamento da greve estejam cada vez mais claros, o risco de um confronto entre antichavistas e chavistas ainda é grande. Apesar disso, Chávez declarou em Brasília, onde participou da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a Venezuela não está "à beira de uma guerra civil" e tentou reduzir os efeitos da greve. Analistas políticos, observadores internacionais e o próprio secretário geral da OEA acreditam que a crise política e institucional venezuelana, com situação quase que irreconciliável entre o governo e a oposição, pode conduzir a um confronto com conseqüências imprevisíveis. O maior problema de Chávez continua sendo a paralisação da indústria petrolífera do país, o quinto maior produtor do planeta. Mas o governo de Chávez resiste e afirma que, no início de fevereiro, a situação do setor deverá estar normalizada. Para evitar que o desabastecimento chegue a uma situação mais crítica do que já está, a Venezuela comprou do Brasil 520 mil barris de gasolina e outros 600 mil barris da Rússia. Recebeu ainda mais 400 mil barris de combustível de Trinitad e Tobago. O governo afirma ainda que o país já está produzindo 1,2 milhão de barris por dia, metade da cota determinada pela Opep. Os grevistas afirmam, no entanto, que a Venezuela não está sequer produzindo 200 mil barris por dia. Nessa "guerra de versões", a imprensa venezuelana afirma que Chávez mente, enquanto que o presidente afirma que os meios de comunicação fazem parte de uma "conspiração" para derrubá-lo. "A mídia venezuelana é um exemplo de jornalismo que não se deve fazer em nenhuma parte do mundo", criticou o presidente em entrevista a jornalistas em Brasília. Independentemente dessas versões, o fato é que a crise da indústria petrolífera venezuelana começa a ter impactos reais sobre a oferta de petróleo nos Estados Unidos, principalmente - fator que provocou aumento nos preços internacionais, que já subiu mais de US$ 7 por barril desde o início de novembro.

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