Venezuela constrói drone com ajuda do Irã

Washington diz que analisará se houve violação às sanções internacionais a Teerã

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Por Luiz Raatz
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O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, apresentou na noite de quarta-feira um modelo de avião não tripulado (drone) fabricado no país com auxílio iraniano. O líder bolivariano anunciou ainda avanços na construção de uma fábrica de armas e munição em parceria com a Rússia. Ontem, o governo americano expressou preocupação com a cooperação entre Teerã e Caracas. Em um discurso de mais de três horas, em pé e fardado, Chávez anunciou também investimentos em infraestrutura e equipamento para as Forças Armadas. Segundo o presidente, o anúncio foi uma resposta a uma investigação do governo americano sobre os drones, noticiada pelo jornal espanhol ABC."Ontem saiu na imprensa internacional que em Nova York há uma investigação sobre a fábrica de pólvora e de aviões não tripulados", disse o presidente. "Claro que estamos fazendo as duas. Temos o direito de fazê-las."Os aviões, batizados de Arpía, têm um raio de ação de 100 quilômetros, com autonomia de voo de 90 minutos e podem viajar a uma altitude de 3 mil metros. De acordo com autoridades chavistas, o avião foi fabricado com peças venezuelanas por engenheiros treinados no Irã.Segundo Chávez, as aeronaves terão funções de patrulhamento. "Esse avião possui uma câmera e tem propósitos defensivos, tanto militares quanto civis", garantiu. "Não temos planos de agredir ninguém, mas que não se enganem conosco. Vamos defender a independência do país com nossa própria vida."Ontem, o Departamento de Estado dos EUA criticou o anúncio do líder bolivariano. "Os venezuelanos, assim como os iranianos, fazem declarações extravagantes", disse a porta-voz Victoria Nuland. "Nossa principal preocupação é a violação das sanções internacionais contra o Irã. Monitoraremos isso de perto." Na fábrica de armas e munições de Maracay, no Estado de Aragua, já foram fabricados 3 mil fuzis AK-103 com apoio russo, 200 granadas e fuzis Catatumbo - um projeto local. O presidente da Companhia Venezuelana de Indústrias Militares (Cavim), general Julio César Morales Prieto, estima que a fábrica está 60% pronta e, em pleno funcionamento, produzirá 25 mil fuzis e 70 milhões de projéteis ao ano. Com uma retórica antiamericana, Chávez criticou os EUA e celebrou a parceria com países como China, Rússia, Cuba e Irã. "Somos um país livre e independente. Os ianques não mandam aqui", declarou. O presidente ainda confirmou a visita do iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao país depois da Rio+20. No ano passado, o governo venezuelano obteve um empréstimo de US$ 4 bilhões para adquirir armas russas. Desde 2005, Caracas já investiu US$ 5 bilhões em equipamento militar russo. Chávez também comprou aviões militares da China. Campanha. Na cerimônia de quarta-feira, Chávez vinculou uma vitória da oposição nas eleições de outubro ao fim da independência do país. Ele também disse haver setores antichavistas interessados em dividir as Forças Armadas e os venezuelanos. "Nem pensem nisso. O poder que temos hoje é 20 vezes maior do que tínhamos em 2002 (quando sofreu um malsucedido golpe de Estado)", afirmou. Para o analista político venezuelano Carlos Romero, a cerimônia chavista tinha três objetivos. Primeiro, mostrar que Chávez mantém o controle sobre as Forças Armadas. Segundo, reafirmar a ideia de que a Venezuela precisa se defender de um suposto inimigo externo. E, finalmente, diz o especialista, o presidente aproveitou para criticar a oposição antes do início oficial da campanha eleitoral venezuelana, dia 1.º. "Ele tentou garantir que controla as Forças Armadas e tem boas relações com países como China, Rússia e Irã no marco de sua política antiocidental", disse o analista ao Estado. "Tudo isso faz parte de uma espécie de doutrina que ele pretende utilizar na campanha eleitoral."Chávez, que se recupera de um câncer, inscreveu sua candidatura na segunda-feira. O candidato da oposição em outubro será o governador de Miranda, Henrique Capriles. / COM REUTERS

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