Venezuela 'esquece' protocolos contra a covid-19 na campanha eleitoral

Pessoas sem máscara e aglomerações podem ser vistas em transmissões de comícios para as eleições parlamentares, marcadas para 6 de dezembro; quase 30 partidos de oposição boicotam o pleito, considerado fraudulento

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Por Redação
Atualização:

CARACAS - A Venezuela saltou de meses de confinamento para comícios de rua reunindo multidões. Com a campanha para as eleições parlamentares de 6 de dezembro, os apelos insistentes para respeitar o distanciamento e usar máscaras para conter a covid-19 foram esquecidos.

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O país acabou por seguir um caminho parecido com os Estados Unidos, em que o período pós-eleições foi acompanhado de recorde nos números de infecções, e o Brasil, em que candidatos chegaram até a se contaminar com o vírus durante a campanha para as eleições municipais.

Desde março, em um país no sétimo ano consecutivo de recessão, o presidente Nicolás Maduro decretou uma quarentena que restringiu as atividades econômicas, aulas presenciais, celebrações religiosas, visitas a parques, voos comerciais, viagens entre regiões e até festas particulares.

Apoiadores de Nicolas Ernesto Maduro Guerra, filho do presidente venezuelano Nicolas Maduro e candidato para as eleições parlamentares, em comício com aglomeração e pessoas sem máscara. Foto: Cristian Hernandez/AFP

"Zero rumbas, zero festa, zero cañandonga (licor)", afirmou o presidente após declarar estado de alarme, destacando que o "único remédio" contra a covid-19 era a quarentena e a máscara e lançando uma campanha para que os venezuelanos ficassem em casa.

Em contraste, em 3 de novembro, com uma chuva de papéis caindo de uma grande plataforma, candidatos do partido no poder, incluindo Cilia Flores, esposa de Maduro, se dirigiram a uma multidão que dançou e agitou faixas em uma praça de Caracas. O comício, após oito meses de proibição de eventos públicos, marcou o início de uma campanha que deu luz verde a grandes concentrações em estádios, praças e avenidas.

Isto, quando o governo socialista informa mais de 101.700 infecções e quase 900 mortes por coronavírus no país de 30 milhões de habitantes, números questionados pela oposição e por ONGs.

Preocupados, sindicatos de saúde do Estado de Zulia, ao oeste do país, um dos mais afetados pela covid-19, assinaram no dia 24 de novembro uma declaração conjunta de "alerta sanitário", na qual pedem a proibição de atos que envolvam aglomerações.

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"É alarmante observar os graves riscos com a série de atividades em massa convocadas para comemorações, eventos políticos e eleitorais, e nas quais milhares de pessoas participam sem resguardar a proteção", diz o texto.

Candidatos em campanha emLos Guayos de Valencia, no Estado de Carabobo Foto: Cristian Hernandez / AFP

Multidões

A televisão estatal transmite comícios políticos, nos quais as pessoas são observadas sem máscaras e amontoadas, enquanto exibem mensagens que convidam os venezuelanos a adotar proteções contra a covid-19, com distanciamento social, máscara e lavagem das mãos.

O próprio Maduro pediu aos candidatos que façam uma campanha "biossegura" e evitem as multidões. "Continuo vendo muita gente sem máscara na campanha eleitoral", disse. "Peço, pela saúde de vocês, que a campanha eleitoral não seja um fator multiplicador do coronavírus", insistiu.

No entanto, na campanha para as eleições legislativas, boicotadas por quase 30 partidos que compõem a maioria da oposição do país, que consideram o pleito uma fraude, os protocolos sanitários veiculados com insistência têm sido omitidos em atos do governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

A primeira-drama, Cilia Flores, em campanha Foto: Venezuelan Presidency / AFP

Diante de uma doença "altamente contagiosa" que se espalha facilmente, "atividades de proselitismo político" devem ser realizadas com responsabilidade, disse Jaime Lorenzo, diretor da ONG Médicos Unidos da Venezuela.

À frente do boicote às eleições, o presidente do Parlamento Juan Guaidó, reconhecido como presidente da Venezuela por 50 países, incluindo os Estados Unidos, incentiva as atividades de rua para promover uma consulta popular independente com a qual espera se manter na luta para tirar Maduro do poder.

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Em uma assembleia com vizinhos, Guaidó apertou mãos e foi cercado por cerca de 200 pessoas, algumas delas sem máscara. "A Venezuela está viva", disse ele ao convidar a participar da consulta marcada para 7-12 de dezembro contra as votações parlamentares.  / AFP

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