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Venezuela liga Bolívia ao caso da mala

Avião com dólares que chegou à Argentina passou por Santa Cruz, segundo ministro

Por Ariel Palacios
Atualização:

Buenos Aires - O escândalo que envolve uma maleta com US$ 790 mil sem declarar e homens de confiança dos governos dos presidente Hugo Chávez e Néstor Kirchner tornou-se ainda mais intrincado ontem, quando o ministro do Interior da Venezuela, Pedro Carreño, declarou que o avião que levou o venezuelano Guido Antonini Wilson de Caracas a Buenos Aires, portador do dinheiro, fez um pouso "temporário" no Aeroporto de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Carreño deu a entender que o dinheiro poderia não ter saído da Venezuela, tal como suspeitava-se, mas sim, ter entrado no jatinho fretado pela estatal energética argentina Enarsa na rápida escala feita na Bolívia. Assim, o caso mais turbulento desde a posse de Kirchner, em 2003, passa a envolver também a Bolívia do presidente Evo Morales. Carreño encarregou-se de tentar desvincular Chávez de Antonini Wilson - que abordou o avião em Caracas a pedido dos altos executivos da estatal petrolífera PDVSA, que viajavam a Buenos Aires com assessores de Kirchner. Segundo Carreño, Antonini Wilson não trabalha para o governo Chávez. Mas, ao mesmo tempo, criticou a mídia por "satanizar" o cidadão venezuelano. No centro da suspeita de que o dinheiro poderia ter como destino ajudar no financiamento da campanha presidencial da primeira-dama, Cristina Kirchner, o governo Kirchner pediu em várias ocasiões que Chávez dê explicações concretas sobre a presença de Antonini Wilson no avião e o pedido de carona feito pela PDVSA. Kirchner, segundo informações extra-oficiais, teria pedido a Chávez a remoção do vice-presidente da PDVSA, Diego Uzcateguy - que é também presidente da filial da estatal na Argentina -, cujo filho, Diego, convidou Antonini Wilson a subir no jatinho. Mas Carreño explicou que não recebeu nenhum pedido formal por parte da Argentina para remover Uzcateguy do cargo. O poderoso ministro do Planejamento Federal e Obras Públicas da Argentina, Julio De Vido, braço direito de Kirchner, é acusado por líderes da oposição de ser o responsável pela entrada da maleta no país. Elisa Carrió, candidata da Coalizão Cívica, de centro-esquerda, pediu a renúncia de De Vido. No jatinho viajava também o diretor do organismo de fiscalização de estradas e pedágios, Claudio Uberti (intermediário entre empresários venezuelanos e argentinos e assessor de De Vido), e o presidente da Enarsa, Exequiel Espinosa. Uberti teve de renunciar na semana passada. Espinosa sustenta-se no cargo a duras penas. O advogado Ricardo Monner Sans, autor de várias denúncias contra políticos nos últimos anos, apresentou ontem um pedido à Justiça para que De Vido seja investigado por um suposto superfaturamento de um programa para construção de casas populares. Segundo Monner Sans, o prejuízo ao Tesouro poderia chegar a US$ 330 milhões. Em julho, em outro caso que abalou o governo Kirchner, a ministra da Economia Felisa Miceli teve de renunciar depois de uma sacola com pelo menos US$ 60 mil ter sido encontrada no banheiro do seu gabinete. Em meio às suspeitas, Cristina faz hoje o lançamento oficial de sua campanha.

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