Venezuela traz alívio à economia

Ajuda em petróleo tirou país da penúria que vivia desde o fim da URSS

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Por Havana
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Cuba entra em um território econômico desconhecido com o fim da era Fidel Castro. Muitos analistas acreditam que as novas lideranças conduzirão a ilha em direção a uma economia de mercado, seguindo o caminho chinês. A verdade, porém, é que nos primeiros 19 meses sob governo de Raúl Castro, as reformas ainda são tímidas - e não há sinais de grandes mudanças enquanto Fidel estiver vivo. Nos últimos anos, o que de fato trouxe alívio para a economia da ilha foi a aliança estratégica com a Venezuela, hoje seu principal parceiro comercial. Os venezuelanos vendem para os cubanos o barril de petróleo a US$ 23, quando os preços internacionais superam os US$ 80. Caracas também contrata médicos e educadores cubanos para atuar na Venezuela e na Bolívia, num convênio que se tornou uma das principais fontes de recursos do governo cubano. Segundo estimativas, a ajuda total chegaria a US$ 2 bilhões. A Casa Branca fala em até US$ 6 bilhões - valor equivalente ao da ajuda soviética no passado. Além disso, os dois países têm previsto a execução de 76 projetos conjuntos em 2008 - num total de US$ 1,3 bilhão - e já montaram 23 empresas mistas. Foi principalmente graças a essa ajuda que Cuba conseguiu voltar a crescer nos últimos anos. O aumento do PIB foi de 7,5% no ano passado segundo as cifras oficiais que, obviamente, são controversas. O cálculo é feito com base em uma fórmula não explicada, que agrega ao Produto Interno Bruto valores ponderados pelos serviços fornecidos pelo Estado como saúde e educação."O dinheiro venezuelano pode até ter conseguido evitar ou ao menos retardar o colapso da economia", disse ao Estado José Azel, pesquisador do Instituto de Estudos Cubanos da Universidade de Miami. "Mas as condições de vida da população continuam bastante deterioradas." O que sufocou a economia da ilha foi, basicamente, o excesso de centralização e a falta de incentivos para a iniciativa individual. Nos primeiros anos da Revolução, Fidel conseguiu garantir um bom padrão de vida para a população cubana graças à ajuda soviética. Na década de 90, porém, o colapso da URSS - e o corte dos subsídios - deu início ao que ficou conhecido como "período especial". As importações caíram 80% e a falta de alimentos e combustíveis transformou o dia-a-dia na ilha numa luta para conseguir produtos básicos. Muitas das reformas econômicas feitas nesse tempo de crise foram revertidas nos últimos anos em que Fidel esteve no poder. Em 2004, as transações em dólares foram proibidas e foi imposta uma taxa de 10% nas conversões entre o peso e o dólar. Os lucros dos cubanos que tinham pequenos negócios - como restaurantes em suas casas, os chamados paladares - caíram dramaticamente. O resultado foi que 50% dos mais de 200 mil cubanos que receberam licença para abrir negócios particulares em 1995 tiveram de fechar suas portas. "O que a população cubana espera é que a saída do líder volte a reverter esse processo", diz Azel. RUTH COSTAS, COM AFP E REUTERS

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