Vetar ou não vetar, eis a questão para a França

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Por Agencia Estado
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"O jogo terminou", disse Bush. E Chirac acha que "não", o jogo ainda não terminou. Há ainda muitos caminhos a serem explorados antes de apitar o final da partida. Portanto, depois da declaração de Powell, alguns comentaristas, que se esforçaram para interpretar até a menor vírgula, acreditaram que a reação do ministro francês de relações exteriores, Dominique de Villepin, era presságio de um recuo de Paris e o começo de um realinhamento com Washington. Bem, hoje, esses comentaristas abusivos voltaram aos seus dicionários e às suas gramáticas. Eles não entenderam nada. "Não, dizem no Eliseu, o texto de Powell não nos fez mudar em nada." À queima-roupa, a pergunta que ninguém ousa fazer, foi feita no Eliseu: "Isso quer dizer que Paris poderá usar o direito de veto no Conselho de Segurança?". Eis a resposta dada por um comentarista sintonizado com o pensamento de Chirac: "Se a questão fosse colocada hoje, a França diria não a uma resolução autorizando o recurso à força". Dito de outra forma: a França utilizaria sua maior arma, o veto. Imagina-se que isso tudo vá aumentar ainda mais o furor com que os EUA vêm atacando os franceses. Um único exemplo. O New York Times, que pouco pratica a grosseria, escreveu: "As provas apresentadas por Powell mostraram que o Iraque ainda possui armas de destruição em massa. Só um imbecil ou um francês poderia pensar de outro modo." Os círculos mais próximos do Eliseu prosseguem nas suas análises. Aos que evocam os enormes desgastes que um veto francês promoveria no campo ocidental, e na França, antes de tudo, eles respondem citando o general Charles de Gaulle. "Se não concordarmos (com os EUA), bem, não concordamos. E isso não será o fim do mundo. Até porque a retirada da França da Otan, decidida por De Gaulle, ou o discurso dele em Phnom Penh contra a aventura americana no Vietnã não significaram o fim das relações franco-americanas." A comparação com De Gaulle é arriscada. Primeiro, porque Chirac não é De Gaulle - "o anão de De Gaulle", diz, de forma lisonjeira, um jornal americano. Depois, o sistema mundial não se compara. Na época, a URSS era um monstro que obrigava o campo ocidental a se limitar às próprias questões internas. Hoje, há apenas um supergrande. Então? Um veto francês? Primeiro bemol: não é certeza que os membros do Conselho de Segurança tenham nova oportunidade de votar. Os EUA podem tentar evitar uma votação pela entrada em guerra, para a qual supõem ser mandatários da ONU. Ao que o Eliseu retruca: "Então, a França pedirá uma reunião". Há ainda um segundo detalhe. O Eliseu explica: "Se a questão fosse colocada hoje, a França colocaria seu veto". Mas e daqui a alguns dias? Eis a resposta: "A França manterá essa posição - o veto - desde que não se coloquem obstáculos ao sistema de inspeções, desde que os inspetores não sejam impedidos de perseguir sua missão, desde que não se vislumbre a existência ou a iminência de perigo". Dito de outra forma: tudo pode mudar. "Eis o que pensamos hoje. Amanhã, veremos!". Mas lembramos a regra de ouro. "A guerra é uma questão muito grave, só a comunidade internacional pode decidir sobre ela".

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