Veteranos do PC chinês pedem mídia livre

Discursos de premiê em defesa de reformas políticas são censurados 4 vezes desde agosto

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Por Cláudia Trevisan CORRESPONDENTE e PEQUIM
Atualização:

Não são apenas os críticos do Partido Comunista da China que têm suas declarações censuradas no país. Trechos de discursos do premiê Wen Jiabao em defesa de reformas políticas foram barrados em quatro ocasiões desde agosto pelo poderoso Departamento de Propaganda, ao qual estão subordinados um exército de cerca de 35 mil censores encarregados de controlar as informações.A menção à censura do primeiro-ministro está em uma carta aberta assinada por 23 membros veteranos do PC que fazem uma defesa enfática da liberdade de imprensa e de informação na China. Entre eles, estão Liu Hui, ex-secretário de Mao Tsé-tung, e Hu Jiwei, ex-editor-chefe do Diário do Povo, jornal oficial do PC. O documento é mais um desafio à natureza autoritária do regime chinês, poucos dias depois de o dissidente Liu Xiaobo ter recebido o Prêmio Nobel da Paz."Neste momento, o Departamento de Propaganda está acima do Comitê Central do PC e do Conselho de Estado (liderado por Wen). Nós devemos perguntar com que direito o Departamento de Propaganda corta o discurso do premiê? Com que direito eles suprimem da população o direito de saber o que o premiê disse?", questionam os signatários da carta.Wen é identificado com o grupo que se opõe às facções mais autoritárias dentro do partido e defende transformações em direção a um sistema mais democrático. Os adversários se enfrentarão hoje em reunião do Comitê Central do Partido Comunista, que oficialmente terá a função de analisar o Plano Quinquenal para o período 2011-2015.Em 21 de agosto, Wen fez um discurso no qual afirmou: "Sem a proteção dada por reformas políticas, os ganhos que tivemos com as reformas econômicas podem ser perdidos e nosso objetivo de modernização não poderá ser realizado." Na versão que apareceu na agência Nova China, o discurso foi reduzido apenas à exaltação das zonas econômicas especiais do país.A carta aberta começou a ser redigida antes da entrega do Nobel da Paz a Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de prisão sob a acusação de subversão. Seus autores afirmam que os dois fatos não estão relacionados. O destinatário é o Comitê Permanente do Politburo, órgão que detém o poder de fato na China, integrado por nove pessoas, entre as quais Wen e o presidente Hu Jintao.O grupo ressalta que o direito à liberdade de informação e de expressão é garantida pela Constituição desde 1982, mas não foi implementado, constituindo um dos "maiores escândalos" da história da China.

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