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Veteranos já comparam Iraque ao Vietnã

"A verdadeira surpresa é que as pessoas estejam surpresas com isso", diz um ex-comandante de pelotão no Vietnã, em alusão às táticas de guerrilha usadas contra as forças anglo-americanas

Por Agencia Estado
Atualização:

No final da 1ª Guerra do Golfo Pérsico, o então presidente George H. Bush comemorou a vitória da coalizão de 41 países que se formou, sob mandato da ONU para expulsar as tropas iraquianas do Kuwait dizendo que o triunfo das forças lideradas pelos Estados Unidos tinha sepultado, entre os norte-americanos, a "síndrome do Vietnã". Essa tese será severamente testada pelo novo conflito, segundo dois veteranos da Guerra do Vietnã reconhecidos hoje como autores e analistas militares. O ex-coronel marine David H. Hackworth, o mais condecorado ex-soldado americano, disse na sexta-feira no programa Larry King Live que "a guerra do Iraque já é um novo Vietnã". Segundo Hackworth, a ausência de uma linha de reabastecimento das forças iraquianas, como a trilha Ho Chi Minh que abasteceu os guerrilheiros vietcongue no Vietnã do Sul, não impedirá o sucesso das táticas de guerrilha que já começaram a ser usadas. "Olho para Rumsfeld com seus óculos sem aro e vejo Robert McNamara", disse ele, numa alusão ao chefe do Pentágono dos governos Kennedy e Jonhson e grande arquiteto da fracassada estratégia de envolvimento dos EUA no Vietnã. James Webb, escritor e cineasta que comandou um pelotão e uma companhia de marines no Vietnã e foi secretário da Marinha na administração Reagan, as ações que os iraquianos já começaram a fazer para resistir às tropas norte-americanas e inglesas, "ainda que repreensíveis, nada mais são do que guerra de guerrilha clássica, sem nenhuma diferença, do que nossa tropas enfrentaram nas áreas mais difíceis do Vietnã". "Na área de operação do 5º Regimento de Marines, perto de Da Nang, enfrentamos rotineiramente soldados inimigos vestidos em trajes civis ou mesmo como mulheres", escreveu Webb ontem no New York Times. "Suas rotas de entrada e saída eram sempre através de vilarejos e lutamos constantemente em áreas povoadas." Segundo Webb, a maior parte das baixas sofridas pela forças norte-americanas até agora foi causada por táticas de guerrilha usadas pelos iraquianos. "A verdadeira surpresa é que as pessoas estejam surpresas com isso." O desempenho militar medíocre das forças do Iraque na Guerra do Golfo, a destruição de boa parte de seu equipamento pesado na guerra e os efeitos de 12 anos de sanções econômicas e bombardeios esporádicos provavelmente levaram os estrategistas da guerra atual a calcular mal a capacidade de resistência dos iraquianos e a ignorar o fato político central que os motiva: em 1991, os iraquianos estavam na posição moralmente difícil de invasores de um país soberano. Hoje, eles estão "defendendo seu território natal". Os obstáculos que as tropas norte-americanas vêm encontrando no Iraque começa a fazer o país acordar para a possibilidade de que os iraquianos talvez prefiram Saddam, por ditatorial e repugnante que ele seja, a uma força invasora estrangeira. Chris Matthews, comentarista e apresentador de programa de debates da rede NBC, que parecia pronto para embarcar para Bagdá e comemorar a vitória com as tropas na primeira noite da guerra, lembrou hoje em seu programa dominical de entrevistas que Josef Stalin, que governou pelo terror, matou milhões de seus conterrâneos nos anos 20 e 30, inclusive centenas de oficiais do Exército Vermelho, transformou-se em grande herói soviético depois que a Alemanha invadiu seu país. Webb confia na capacidade das forças anglo-americanas de dar cabo do governo de Bagdá. Mas duvida que os EUA alcancem seu segundo objetivo: constituir alguma forma de governo representativo no país. De fato, o líder da maioria xiita do Iraque disse à agência Reuters que ficará feliz em ver o regime atual cair, mas organizará a resistência armada se os EUA permanecerem no Iraque depois de tirar Saddam Hussein do poder. "Bem vindos ao inferno", escreveu Webb. "Muitos de nós vivemos nele numa outra era. E não espere, por algum tempo, que as coisas melhorem." Veja o especial :

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