
20 de março de 2012 | 19h39
A visita do papa Bento XVI ao México e a Cuba, no próximo fim de semana, tem um acentuado componente político, por meio do qual a Igreja Católica busca aumentar o diálogo religioso com os dois países e promover a nova evangelização, avaliam especialistas entrevistados pela ANSA.
A teóloga Lina Boff afirma que, para a Igreja Católica, este é “um momento de evangelização ecumênica, que congrega a juventude que será o futuro de uma humanidade mais voltada e centrada para a essência da vida”.
Ela avalia que a viagem de Bento XVI se diferencia daquelas realizadas por João Paulo II aos dois países na década de 1990, porque enquanto este avançava para frente, na busca por novos fiéis e pela expansão do cristianismo, o atual Papa segue para os lados, convidando todos para a comunhão, sem conflitos religiosos.
O ponto de vista é compartilhado pela professora de Teologia da PUC-Campinas Ivenise Santinon: “Penso que esta visita favorecerá que cristãos se abram ao diálogo com o diferente e aceite a inserção daqueles que até aqui foram escravizados e rejeitados. Só assim a evangelização no continente latino-americano e caribenho conseguirá maior eficácia em sua missão para a vivência coerente dos Evangelhos”.
Como aponta o doutor em Ciências da Religião Emerson Sena, a viagem de Bento XVI, porém, “reveste-se não só de objetivos pastorais, mas também de inegáveis, e algumas vezes, tácitos objetivos político-culturais”.
Lina Boff também acredita que as escolhas de Cuba e México como destinos da viagem é “uma estratégia política do Vaticano”. Segundo ela, ao visitar Cuba, o Papa demonstra a abertura da Igreja, que se posiciona contra o embargo imposto pelos Estados Unidos. “É hora dele dizer algumas boas verdades que não vão agradar os norte-americanos e que deixem o povo cubano feliz”.
Membro da Rede Latino-Americana de Teólogos Pastoralistas, Ivenise Santinon afirma, por fim, que “a desigualdade e tantos outros desafios sociais e morais que emergem do contexto da região impõem uma nova postura à Igreja”.
Ela lembra que, em 2007, Bento XVI chegou a citar o machismo predominante no subcontinente. “Isso é inovador e abre possibilidade de se debater muitas questões. Penso, portanto, que nessa visita será necessário agir com prudência e humildade, mas também com ousadia”.
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