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Viagem de Obama a Gana frustra africanos

Em sua 1.ª visita oficial à África Subsaariana, presidente chega hoje à noite a Acra, onde passará menos de 24 horas e evitará multidões

Por Roberto Simon
Atualização:

Para os que esperam uma viagem histórica, a primeira visita do presidente Barack Obama à chamada África Negra será uma decepção. Obama chega hoje a Gana para uma passagem relâmpago de menos de 24 horas, depois de ter "reiniciado" relações com Moscou, participado da cúpula do G-8 na Itália e conversado com o papa no Vaticano. Assessores do presidente admitem que gostariam de dedicar à África um tour exclusivo, mas "a agenda" de Obama não teria permitido. Ao final, Gana foi encaixada entre a Europa e a volta aos EUA. Se confirmada, a lição da visita será amarga: o continente africano continua desinteressante para Washington, mesmo com a Casa Branca sob o inédito comando de um afro-americano. O desconforto nos bastidores começou com a própria escolha de Gana como primeiro destino do presidente na África (à exceção do Egito). O Quênia, terra da família paterna de Obama, acreditava ser o candidato natural a primeiro destino. Quenianos acompanharam de perto a trajetória de Obama e o dia da sua posse foi declarado feriado nacional. Mas a Casa Branca preferiu driblar Nairóbi. O motivo seria a tormenta pela qual passa o país desde as eleições de 2008, quando o então opositor Raila Odinga, da etnia luo, não reconheceu a vitória de Mwai Kibaki, um kikuyo. Choques sectários deixaram mil mortos, até que um pacto levou Odinga ao cargo de premiê e Kibaki à presidência. País mais populoso da África e grande fornecedor de petróleo para os EUA, a Nigéria também se mostrou decepcionada com a opção por Gana. Em nota, a Casa Branca justificou a escolha argumentando que deseja "sublinhar a importância da boa governança e da sociedade civil para o desenvolvimento" na África - e Gana seria um exemplo de estabilidade. Acra livrou-se do domínio britânico em 1957 e, após sucessivos golpes, o ex-presidente Jerry Rawlings implementou em 1992 um sistema multipartidário. Desde então, opositores já chegaram duas vezes ao poder por meio de eleições. "Obama deseja uma política coerente para a África, menos centrada em pessoas e na guerra ao terror e mais preocupada em parcerias com africanos que compartilham valores com os EUA", disse ao Estado Colin Thomas-Jensen, do Enough Project, próximo do partido Democrata. A viagem a Gana seria um aceno nesse sentido. A agenda de Obama em Acra inclui uma visita ao Castelo do Cabo da Costa, onde escravos partiam para as Américas até o século 19. Obama só falará no Parlamento ganense, já que Washington quis evitar discursos abertos ao público. Em 1998, o presidente Bill Clinton quase causou uma tragédia ao falar para 500 mil ganenses. Na confusão, Clinton chegou a pular na multidão - para o desespero de seus seguranças -, tentando ajudar uma mulher. Mesmo sem pisar na África, Obama já havia iniciado, ainda que timidamente, sua política africana. A primeira grande decisão foi a escolha do general da reserva Scott Gration como enviado para o Sudão, diz Dorina Bekoe, do US Institute of Peace. Com 300 mil mortos e 2,7 milhões de refugiados desde 2003, o conflito em Darfur "é prioridade", assinala Obama.

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