Vice de Arafat diz que levante armado foi um erro e deve parar

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Por Agencia Estado
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O levante armado dos palestinos contra Israel foi um erro e deve ser contido, comentou hoje Mahmoud Abbas, vice de Yasser Arafat, na mais dura crítica já feita por um importante líder político palestino aos militantes islâmicos e, indiretamente, ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Os comentários de Abbas, tido como um possível sucessor de Arafat à frente da ANP, foram interpretados como um marco nos raros debates entre os palestinos sobre os méritos do levante de dois anos e três meses. As palavras de Abbas foram ditas durante uma reunião a portas fechadas com líderes do movimento político Fatah, liderado por Arafat. Uma transcrição de 20 páginas da ata da reunião foi obtida pela The Associated Press nesta quarta-feira. A autenticidade da declaração e do documento foi confirmada por seu gabinete. A The Associated Press procurou obter o texto depois de o jornal Al-Hayat, com sede em Londres, ter publicado trechos do documento em sua edição de ontem. A reportagem foi reproduzida hoje pelo diário palestino Al-Quds. Assessores de Arafat recusaram-se a comentar o episódio. Abbas estava a caminho do Catar nesta quarta-feira e não pôde conversar com a equipe de reportagem. Na reunião com autoridades da Fatah ocorrida no mês passado, Abbas disse que chegou o momento de se fazer uma reflexão profunda. "Deveríamos nos perguntar, não como forma de autoflagelação, mas corrigindo os erros que cometemos e vendo aonde fomos levados", disse ele, segundo a transcrição. Houve pouco debate público na sociedade palestina sobre o conflito armado com o Estado judeu, apesar de a intifada ter adiado suas aspirações à independência, deixado a economia em ruínas e levado à reocupação das principais cidades da Cisjordânia por parte dos soldados israelenses. Membros do círculo íntimo de Arafat já criticaram a ação dos extremistas - inclusive das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, ligada à Fatah -, mas esses comentários nunca vieram a público antes. Em Israel, o primeiro-ministro interino Ariel Sharon, que segundo as pesquisas deverá vencer seu chanceler Benjamin Netanyahu nas primárias do conservador Partido Likud, reafirmou nesta quarta-feira seu apoio condicional à criação de um Estado palestino. O assunto foi bastante debatido durante a campanha. Netanyahu garante que, se eleito, impedirá a criação de uma Palestina independente. Ele acusa Sharon, famoso por sua linha dura, de estar ávido por fazer concessões. Numa entrevista publicada hoje pelo jornal Maariv, Sharon foi citado dizendo que, se um acordo de paz for assinado e a violência parar, "não creio que algum estadista se oporia à criação deste Estado". Mas ressalvou: "Em conversas de esclarecimento que tivemos com os Estados Unidos foi dito claramente que falamos sobre um Estado totalmente desmilitarizado, apenas com forças policiais, armadas apenas com armas leves." Sharon defende ainda que Israel tenha controle sobre as fronteiras e o espaço aéreo do futuro Estado palestino e possa impedi-lo de forjar alianças militares. As primárias do Likud estão marcadas para amanhã. O vencedor enfrentará Amram Mitzna, candidato do Partido Trabalhista, nas eleições de 28 de janeiro.

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