LIMA - A vice-presidente do Peru, Mercedes Aráoz, renunciou na noite de terça-feira, 1.º, um dia depois de ter sido jurada pelos congressistas como presidente interina do país - após aprovação da suspensão temporária do mandatário Martín Vizcarra - e defendeu a antecipação de eleições gerais. A decisão representa um alívio para o impasse com Vizcarra e uma derrota para a oposição fujimorista.
"Comunico minha decisão de renunciar, de maneira irrevogável, ao cargo de segunda vice-presidente constitucional da República" e "declino o encargo conferido" pelo Congresso de substituir Vizcarra, escreveu Mercedes em uma carta dirigida ao chefe do Legislativo, Pedro Olaechea, divulgada por ela no Twitter.
"Diante da orientação da Organização dos Estados Americanos (OEA) para que o Tribunal Constitucional seja o encarregado de decidir sobre a constitucionalidade da medida adotada pelo Sr. Martín Vizcarra de dissolver o Congresso da República, considero que não há as mínimas condições para exercer o encargo que me atribuiu o Congresso”, alega Mercedes.
Ela acrescentou esperar que sua renúncia "leve à convocação de eleições gerais no menor tempo possível para o bem do país".
A pior crise no Peru em décadas
A disputa entre Martín Vizcarra e o Congresso levou o país a um grave impasse institucional na segunda-feira (30). Após o líder dissolver o parlamento e convocar novas eleições para 2020, o Congresso respondeu suspendendo-o temporariamente e nomeou sua vice, Mercedes Aráoz, para ocupar o cargo.
A crise política peruana se agravou quando Martín Vizcarra tentou alterar o modelo de escolha dos membros do Tribunal Constitucional em uma manobra para evitar que a corte fosse controlada pela oposição.
O Congresso, que é controlado pela oposição fujimorista e que indica os novos nomes para o Tribunal Constitucional, ignorou o projeto presidencial. Face à resistência dos parlamentares, Vizcarra dissolveu o parlamento e convocou eleições parlamentares.
Logo em seguida, o Congresso aprovou a suspensão "temporária" de Vízcarra por "incapacidade moral" e nomeou para seu lugar a vice-presidente Mercedes Aráoz. Ela prestou juramento imediatamente depois.
A escalada da crise levou os responsáveis pelas Forças Armadas e pela Polícia Nacional a se reunirem com Vizcarra para demonstrar "seu total apoio à ordem constitucional e ao presidente".
Após o impasse com o Congresso, Vizcarra conseguiu apoio da cúpula militar, de cerca de 10 governadores regionais e de milhares de cidadãos que fizeram marchas coloridas e barulhentas na noite de segunda-feira em Lima e nas cidades de Huancayo, Cuzco, Arequipa, Puno, Trujillo, Moquegua e Tacna, entre outras.
Eleição para novo Parlamento
O governo anunciou na segunda-feira que a eleição do novo Parlamento será realizada no dia 26 de janeiro do 2020, conforme estipulado na Constituição Política em caso de dissolução do Legislativo.
No entanto, Vizcarra permanece na presidência e analisa a recomposição de seu gabinete ministerial, após a renúncia de seu primeiro-ministro, Salvador del Solar.
O presidente trabalha agora na formação do seu novo gabinete, ao lado de seu novo premiê, Vicente Zeballos, com a expectativa de prestar juramento ainda nesta quarta-feira, 2. / AFP e EFE